quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Facebook e a gente que anda por lá, mais uma vez!


* Por Mara Narciso


Meu amigo Manoel Hygino, jornalista do Hoje em Dia, não entende esse meu gosto pelas redes sociais. Depois de 16 anos, as surpresas acontecem mais imprevisíveis do que urna eleitoral ou jogo Atlético e Cruzeiro. Tudo pode acontecer, inclusive nada.

Você poderá se inscrever no Facebook por curiosidade, por preguiça, por já ter experiência no extinto Orkut, para ver, para se mostrar, para criar caso, para brigar, para arrumar namorado/a, para sexo fortuito ou virtual ou para nenhuma dessas. Muitos detestam o Facebook, outros o adoram, outros entram apenas um dia do fim-de-semana, outros ficam oito, doze horas todo dia e ainda outros não saem nem para o banho.

Nem todos aceitam, mas você pedirá amizade porque acha a pessoa num comentário e você a conhece da sua cidade ou de outras comunidades virtuais. Ou vocês têm amigos em comum e se trombam. Ou você considera o comportamento dela interessante, inteligente, adequado e isso o convence de que vale a pena trocar letrinhas. Ou você acha a pessoa bonita e quer ver as fotos dela, a coloca como melhores amigos e a segue. Ou você anda despeitado, cultivando ódio no recalque e quer perseguir uma pessoa, pede amizade, e, sendo aceito, não curte, nem comenta, nem se mostra. É comum o desejo de vasculhar/rastrear a vida de alguém no anonimato. Ou mais uma lista de possibilidades que você acrescentará.

Você precisa romper a amizade e/ou bloquear alguém por inúmeros problemas: ameaça, assédio, grosseria, estupidez, inconveniência, decepção, desinteresse, falta de assunto ou outra incompatibilidade. Opiniões divergentes atraem ou causam a ruptura do outro lado. Uns poucos aparecem para contar o motivo do desencanto, mas a maioria desaparece e fim. Adiante, quando se encontram entre amigos comuns, você pode tentar marcar a pessoa numa postagem e não consegue. Algumas vezes já desconfiava, mas noutras, depois de algumas interações, a surpresa é total. Visita-se mentalmente o convívio e não se encontra nada. Este é motivo da ruptura: o nada. O bom-senso manda ficar calado, porém, o chato vai perguntar, e quem o excluiu manterá a palavra e tomará um ar de divindade celestial.

No amor, a pessoa rejeitada é a mais amarga. Quer destruir o objeto do seu sofrimento. Deveria deixar para lá, mas o voyeurismo se impõe, e todo dia está de plantão na vida do agora inimigo, vendo fotos do novo casal e chorando. Por seu turno, esnoba alguém que a queira, na velha cantilena do “quem eu quero não me quer, quem me quer mandei embora”. Sem contar a possibilidade da sensação de trombada num poste, no primeiro cara a cara. Muitos desencontros nos encontros cibernéticos. E vice-versa.
A principal ordem é mostrar felicidade. Tudo é maravilhoso e vale a pena. Despertar inveja é a tônica da rede, como numa peça publicitária. Tanto que comer uma pizza em família poderá render 30 fotos de sorrisos amarelos e iguais. Depois de ser feliz é preciso ser jovem, saudável, bonito, realizado, do bem, indignado com o desrespeito à lei, ter opinião sobre tudo, além de mostrar espiritualidade. Os não crentes são execrados.

É um noticiário permanente e um obituário que dá más notícias nas primeiras horas do dia. Os maus aqui na Terra continuam fazendo suas traquinagens e crimes on-line. Mais livres, porém na proporção do mundo real. Enquanto uma parte acha que as redes sociais são uma perda de tempo, outros entram no Facebook para pregar o bem, ver, aprender, ensinar, dar apoio, se distrair e se divertir, e para mostrar seu trabalho, dons e dotes. Há as pessoas que seguem a outra como um cão perdigueiro, enquanto outras esnobam seus seguidores, os desprezam e agem como celebridades (muitos nem chegam perto do que fingem ser). Não retornam um contato inbox, não curtem um comentário agradável, não olham nada de ninguém. Só querem ser vistas e paparicadas. Por outro lado há quem agradeça cada atenção. Outro exagero.

O universo virtual, com suas peculiaridades, é o retrato do mundo real, apenas mais afetivo, com ares de divã do psicanalista. Em minutos de conversa, muitos se tornam íntimos, contam suas dificuldades, e sofrem quando descobrem que falaram demais, e no arrependimento, querem recolher palavras jogadas no ciberespaço.

O Facebook é viciante e cheio de recursos. Não é permitido descansar, pois, sendo um moto-contínuo gera mais energia do que consome, e uma postagem leva a outra e assim, indefinidamente. Os 1,6 bilhões de cadastrados (oito Brasis) dão lucros, pois uns pagam para ser mais vistos, enquanto outros correm para não perder a cena. Tem fim?

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   



Um comentário:

  1. Ainda temos que aprender a lidar mais produtivamente e a dosar mais sabiamente o tempo no mundinho azul. A proposta dele é maravilhosa, cabe aos homens não a deturparem...

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