quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Envolta na distração


* Por Elane Tomich


Envolta na distração
perdi a noção do mundo
incerto do amor abstrato
e, assim como quem não volta
da viagem, em envoltório
roto, de fim de perdição
no fundo do submundo,
fiz com a certeza um trato:
de não me acordar meias- voltas
ou imolaria em ofertório
o triste do poço mais fundo,
fundindo porões da prisão

Mesmo atenta à distração
não gosto de nada partido,
nada meio pelo meio
ainda que a coisa acabada
a nada, nos leve a tanto.
Mesmo relativo o feito,
que haja a consumação,
pra que gemido perdido
ainda que à guisa de esteio,
não sustente a queixa enfeitada,
que nua, é de um só jeito.

Envolta na distração
cheguei a tocar na arte
não a arte, essa ou aquela,
mas na arte geradora
que a gente ao achar recria,
de um jeito que a gente não pode,
mas que acaba em transgressão,
de reter um pouco a parte
de uma inteireza mais bela.
Como se nossa alma Senhora
Aurora, parisse o dia
num todo aclive em ode.

Envolta na distração
esquecida dos clichês,
das pobres rimas de efeito,
das buscas em dicionários
fiz minha sentença mais forte
num só verso, absolvida.
A forma, não desvendei não.
Era livre de porquês,
ágios das culpa no peito
guardados em confessionários,
bolsas de bônus pós-morte,
enquanto eu celebro a vida.


* Poetisa

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