domingo, 20 de dezembro de 2015

Variações em torno de um mesmo tema


* Pedro J. Bondaczuk


O Natal, como tema literário, é um desafio que encaro há já 40 anos. Como escrever textos que sejam originais a propósito, que ninguém já tenha escrito e que sejam, se não excelentes, pelo menos atrativos (e obviamente literária e gramaticamente corretos)? Essa é a questão que venho encarando, por exatas quatro décadas e, salvo engano, venho me saindo bem. Prova disso é que, entra ano, sai ano, os convites dos editores das mídias que freqüento (jornais e revistas, por muito tempo, e atualmente, além desses veículos, sites e blogs da internet) se repetem com uma constância  assustadora e ás vezes até aumentam. Até quando? Não sei! Espero que por mais o mesmo tempo, por outros 40 anos, quem sabe.

Aliás, nem sou o primeiro, não serei o último e muito menos único a encarar esse desafio. Milhares e milhares de escritores, tempo e mundo afora, encararam e encaram idêntico repto, com resultados variáveis, como seria de se esperar. Alguns arriscam-se e... se dão mal. Outros também correm esse risco, mas se saem razoavelmente bem. Uma quantidade imensa de redatores declina de convite para escrever a respeito, sob variados pretextos e evitam possível desgaste da imagem. No tempo em que trabalhava no Correio Popular, eram muitos os jornalistas convidados a escreverem sobre o Natal. Sob pretextos vários (em geral, “falta de tempo”) no entanto, todos eles se recusavam a degustar “essa batata quente”. Eu, no entanto, sujeito imprudente e impulsivo, gosto de “viver perigosamente”. Pelo menos nesse aspecto. E a “bomba” estourava, invariavelmente, em minhas mãos,

Já escrevi crônicas (mais de uma centena delas), contos (cerca de quarenta), poemas (meia dúzia, se tanto) e até mesmo meu único, solitário (e inacabado)_ romance tendo o Natal por tema. Tenho uma pasta específica em meu arquivo eletrônico com todos os textos sobre esse assunto que redigi, nos últimos quarenta anos, e nos gêneros que citei. Repeti-me alguma vez? Aparentemente não! Mas... Essa variação em torno de um mesmo tema, sem ser repetitivo e nem “enrolador”, além de desafio (óbvio), é uma forma de estimular a criatividade. E haja criatividade!!! Para que o leitor tenha uma idéia da quantidade de textos a propósito, lembro que o primeiro livro que publiquei foi “Quadros de Natal”. São oito contos alusivos á maior festa da cristandade que, há muitos anos, tem mais caráter profano do que propriamente religioso.

Pela urgência das “encomendas” dos editores das mídias que freqüento, compus poucos, pouquíssimos, escassos, escassíssimos poemas alusivos a esse evento. Bem, poesia exige sentimento, emoção, algo que promova empatia entre o poeta e os leitores e não somente técnica. Mas... como se emocionar espremido contra a parede, tendo que cumprir prazos super apertados? Não há como! Ademais, os “clientes” parecem não apreciar tanto a poesia, não pelo menos sobre esse tema. A maior parte dos meus textos natalinos é de crônicas. O gênero, por sua própria natureza, descontraída, como um bate-papo informal, faz com que o prefira, em detrimento de outros. Digamos que eu tivesse que escrever uma única redação por ano sobre o Natal. Só aí, o número chegaria a 40. Todavia, houve anos que as encomendas ascenderam a oito, entre jornais, revistas, sites e blogs. Daí haver em meus arquivos implacáveis mais de uma centena de crônicas natalinas.

Quanto ao meu romance... sou frequentemente cobrado (infelizmente, não por nenhuma editora, mas por amigos) a concluí-lo. Como ninguém me impôs prazo algum para sua conclusão, ele já se arrasta por praticamente uma década. Esclareço que o texto em si (ou seja, o enredo e sua exposição) está prontinho. Falta, todavia, o mais importante: o acabamento. O resultado, até aqui, é um calhamaço de umas 500 páginas. Meu desafio é reduzi-lo para algo em torno de 180, o que demanda criteriosa edição (justo eu que sempre fui editor), além de paciência e... tempo. Muito tempo. E é deste que mais careço. O título provisório do romance é “O sinterklaas de Roterdam” (um tanto exótico, não acham?). O enredo refere-se a uma das principais tradições (se não a principal) da Holanda. Sinterklaas é uma espécie de Papai Noel holandês.

Mas, por enquanto, esse livro terá que esperar (quanto? Não sei!). Tenho uma pauta de cinco crônicas para este ano – todas originais, exigência explícita dos que as encomendaram – a redigir, se possível, ainda hoje. Este texto (que nem sei em que gênero caracterizar, se é que se enquadra em algum), certamente não será enviado a nenhum cliente. Eles não o aceitariam. Ficará, pois, restrito a um dos meus dois próprios blogs. Como editor de ambos, certamente não reclamarei do assunto (sem assunto) e nem da extensão. Embora se trate de uma espécie de balanço, não deixa de ter relação com o Natal, embora não trate de presépio, ceia natalina, presentes, Papai Noel e nem de outros tantos clichês tão comuns da ocasião. Contudo, não tenho como fugir do mais surradíssimo deles, ao término deste bla-bla-blá em tom mais de desabafo do que de informação: FELIZ NATAL para todos!!!

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk


Um comentário:

  1. Neste ano, me solicitaram um texto sobre o Natal, e eu o fiz. Posso lhe assegurar que é muito difícil.

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