segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Especulações sobre a origem


O eminente filósofo inglês dos séculos XVI e XVII, Francis Bacon, que se notabilizou pela defesa do uso do método científico, caracterizado pelo empirismo, para explicar os fenômenos do universo, escreveu, em um de seus tantos textos: “Um pouco de filosofia leva a mente humana ao ateísmo, mas a profundidade da filosofia leva-a para a religião”. Uma das tantas questões que os nossos remotíssimos ancestrais levantaram, para complementar as clássicas perguntas “quem sou”, “onde estou”, “de onde venho”, “para onde vou” foi, certamente, esta: Quem criou tudo isso? Ou seja, a Terra, os planetas, as estrelas, as galáxias, o homem, as demais criaturas vivas etc.etc.etc. enfim, o macro-universo? O micro, obviamente, no início do exercício humano de racionalidade, aqueles pensadores primitivos sequer desconfiavam que existisse. Nem poderiam.

Surgiu, então, o conceito de Deus. Ou, para ser exato, de “deuses”. Em princípio as divindades eram relacionadas, todas, aos fenômenos da natureza: o sol, a lua, as chuvas, a vida etc.etc.etc. Essa especulação primitiva, puramente filosófica, ensejou o surgimento das religiões. Caso “filosofemos” de maneira superficial, sem nenhuma profundidade, seremos induzidos a negar a existência de qualquer divindade. Todavia, se nos aprofundarmos nas cogitações... talvez (isso depende de cada um) cheguemos à conclusão da existência de um ser onisciente, onipotente, onipresente e eterno, que não teve começo e nem terá fim, embora tal conceito de infinitude e de eternidade não caiba em nossa mente finita e efêmera.

Não entrarei, óbvio, nessa discussão, porquanto não sou teólogo. Tenho minha crença a propósito, mas não quero e nem vou tentar fazer proselitismo. Reservo-a exclusivamente a mim. É convicção íntima demais para ser exposta a críticas e contestações. Tenho convicção, que se acentua quanto mais penso no assunto, de que não existem os chamados ateus. Os que se confessam como tal, podem não crer num deus específico (ou em deuses) como é apregoado pela infinidade de religiões que há por aí. Têm, no entanto, “explicações” (que julgam racionais) para como tudo isso (incluindo nós, óbvio) surgiu, mesmo que não tenham competência para verbalizá-las. Por exemplo, muitos fazem da Teoria do Big-Bang um dogma – para mim muito mais absurdo do que o conceito de um deus –  para “explicar” a origem de tudo. Explicam? Obviamente não. Apenas especulam. Não conseguem, entre outras coisas, justificar como o suposto super-aglomerado, tão concentrado que podia ser comparado a ínfima parcela da cabeça de um alfinete, se formou. Formou-se do que? Procedeu de onde? Onde estava antes da super-explosão? E esse lugar, supostamente o vácuo, como surgiu? Tais pessoas não chamam nada disso de “deus”, por isso se declaram “ateus”,  mas é como consideram a origem. Para mim, é só questão de semântica.

Como o norueguês Jostein Gaarder trata desse assunto em sua obra-prima “O mundo de Sofia”, que é, simultaneamente, atrativo, estimulante e inteligente romance e seguro guia para o estudo da história da filosofia? Dedica pouco espaço a essa consideração, pelo menos no capítulo inicial do livro, intitulado “O Jardim do Eden”. Estende, porém, bastante as informações quando trata das diversas escolas filosóficas, desde a Grécia antiga, aos tempos atuais. Gaarder escreve, na página 19: “(...) Na escola ensinavam que Deus havia criado o mundo, e agora Sofia procurava acalmar sua mente achando que aquela era a melhor explicação para o problema (...)”.

Pondera, todavia: “(...) Mas logo ela retomou o pensamento. Podia muito bem lidar com a idéia de que Deus havia criado o universo, mas e quanto ao próprio Deus? Ele havia criado a Si mesmo, do nada? De novo, algo dentro dela rejeitava aquilo. Apesar de Deus conseguir criar um homem atrás de outro, Ele jamais conseguiria criar a Si mesmo antes de ter se tornado ‘um ser’ capaz de criar outro. Logo, só restava uma possibilidade: Deus sempre existiu. Mas essa possibilidade ela já afastara. Tudo que existia tinha que ter tido um começo (...)”.

Jostein Gaarder explicou alguma coisa, ao tratar de tão delicado e misterioso tema? Não! Claro que não! Todavia, o papel da Filosofia não é, e nunca foi, o de explicar o que quer que seja, o de trazer respostas e esclarecimentos, mas o de provocar a mente e gerar dúvidas e mais dúvidas. E isso, convenhamos, faz à perfeição. Em outro trecho de “O mundo de Sofia” o escritor nos lembra: “(...) No fundo, não há tantas questões filosóficas para fazermos. Nós já fizemos algumas das mais importantes. Mas a história nos mostra muitas respostas diferentes para cada uma das perguntas que fazemos.

Portanto, é mais fácil chegar às questões filosóficas do que respondê-las.

Da mesma forma, hoje em dia cada um deve encontrar suas próprias respostas para as mesmas perguntas. Não é possível encontrar numa enciclopédia se Deus existe ou se há vida após a morte. As enciclopédias também não nos dizem como devemos viver. Ler como pensam outras pessoas, no entanto, pode nos ajudar quando precisamos elaborar nosso próprio juízo sobre a vida (...)”. E isso não vale a pena? Óbvio que sim!!!

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Adorei as explicações de Sofia. Não há respostas, sendo assunto intrigante e instigante. No meu raciocínio canhestro, não tenho respostas e nem faço perguntas. Tenho medo de pensar e assim a mediocridade impera. Só de imaginar o tamanho de Júpiter, quando um astro bateu em sua superfície gasosa e abriu um rombo do tamanho da Terra, já me dá engulhos no estômago. Acho bonito, mas sou muito pequena para filosofar.

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