quarta-feira, 28 de outubro de 2015

“Que festão! Que showzão!” (Fernando Yanmar Narciso)

* Por Mara Narciso


Quanto você ganhou para falar isto? Eu pago o dobro para dizer que mudou de ideia!”, vinha falando sobre o que tinha dito há pouco (titulo do texto), meu filho Fernando, na volta para casa. E hoje de manhã, cinco horas após se deitar, depois da confraternização médica da Sancoop, Cooperativa Médica da Santa Casa de Montes Claros, completou: “Mãe, que festa boa, não?”.

O dinamismo da vida nos assombra, até para quem já viveu várias décadas. Boas e más notícias vão e vêm na velocidade de sempre. Depois de semanas no forno de 37 a 40º C entramos no freezer. Foi no sábado à noite, no Portal de Eventos. Seria uma festa para quinhentos convidados, evento bem divulgado por todas as mídias. Compramos o ingresso, que insistem em chamar de convite. Barato, é certo, em relação ao que lá tivemos. Festa em três ambientes, jardim, salão de apoio e salão principal, mesa de frios, jantar, bebidas, sobremesa, café e música ao vivo. Decoração com rosas brancas em vasos prateados e lustres vitrificados, mesas redondas e retangulares, e cadeiras de dois modelos, de acrílico transparente e madeira com acolchoado escuro. Agradável ao chegar, logo depois, frio demais para mim, que sofro de termostato danificado. Sentei-me o mais longe possível dos duzentos aparelhos de ar-condicionado. Mas a posição isolou a mim e a Fernando. Então, nos mudamos para uma mesa de amigos. Bons amigos.

Festas de médicos são a imagem da fartura, do exagero, do luxo e da ostentação. Cada carro “mais” importado e maior do que o outro. Caso dependesse desse grupo, a indústria automobilística nacional iria à lona. Cada mulher mais linda do que a outra, em vestidos belos, caros, justos, curtos, com amplos decotes e o onipresente tule. Muito brilho, maquiagem, procedimentos embelezadores, corpão malhado, saltos agulhas. Quase nenhuma anda. Desfila. Cada qual quer se apresentar melhor do que a outra, pois a boa imagem indica sucesso, e os pares precisam saber disso. Quem mais? Igual a maioria das classes profissionais. Nem todos rezam por essa cartilha, mas boa parte sim. Quem não concordar, que me prove o contrário.

Era preciso participar da festa relativa ao Dia dos Médicos. Esta prometia ser boa, como de fato foi, especialmente iluminada pela presença do grande artista Aggeu Marques. Numa certa altura, perguntou ao público: “Algum médico na área?” Talentoso na guitarra, voz e presença no palco, ocupou seu espaço com folga, ele que é médico ultrassonografista na Clínica Imagem João Monlevade. Estando entre seus colegas, informou isto aos que não o conheciam. Enviou seu recado musical extrapolando em muito o que lhe fora contratado. Tocou, cantou e interpretou músicas dos Beatles, John Lennon e Paul McCartney, sua especialidade. Resultado? Os médicos dançaram, admiraram e aplaudiram de perto o lindo, maravilhoso, sexy e ultratalentoso cantor médico. Exibo-lhe os predicados sem favor algum. Ganhou o primeiro prêmio de banda cover dos Beatles em Liverpool, cidade de origem do famoso quarteto inglês. Motivos tem para ser elogiado.

Fazendo exatamente como os demais que lotaram a pista de dança, fiquei dividida entre ser envolvida pelo som que entrava alma adentro, embalando emoções, dançar ou filmar, para tê-lo para sempre. O melhor foi fazer tudo isso. Dançar espantou o frio, e estar a um metro de Aggeu Marques foi uma festa para todos os meus sentidos. Ele tem músicas autorais que tocam na Rádio Unimontes, e das quais gosto. O desejo dele é ser valorizado por esta sua outra vertente musical, mas, pelo que sei, por enquanto, ainda não atingiu sua meta.

Gelo seco, fumaça, luz em fachos brancos e coloridos para todos os lados, no ritmo da música, uma grande equipe em cena, tudo para ser perfeito. E foi. Conjugando os verbos comer, beber, desfilar, falar aos berros, dançar, sentir felicidade e euforia, os médicos apreciaram a festa, ainda que ficassem a tirar fotos e postar nas redes sociais (eu também). É porque, o que não é fotografado e visto, seguindo a nova ordem, não aconteceu. E esta festa retumbou com nota dez em todos os parâmetros avaliados, até no frio enregelante. Mas, chega a hora de partir. Cedo ainda, pois outra banda tocaria. Após Aggeu Marques encerrar, saí, querendo ficar, já pensando em quais adjetivos escolheria para explicar a festa. Diante da força do acontecimento, fico mesmo com os substantivos no aumentativo, festão e showzão. Eles dizem tudo. Ou quase.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   


Um comentário: