sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O pensador de Rodin


* Por Gabriela Mistral


Apoiando na mão rugosa o queixo fino,
o Pensador reflete que é carne sem defesa;
carne da cova, nua em face do destino,
carne que odeia a morte e tremeu de beleza.

E tremeu de amor, toda a primavera ardente,
e hoje, no outono, afoga-se em verdade e tristeza
o “havemos de morrer” passa-lhe pela mente
quando no bronze cai a noturna escureza.

E na angústia, seus músculos se fendem sofredores,
sua carne sulcada enche-se de terrores,
fende-se, como a folha de outono, ao Senhor forte

que o reclama nos bronzes. Não há árvore torcida
pelo sol na planície, nem leão de anca ferida,
crispados como este homem que medita na morte.

Tradução de Manuel Bandeira.



* Poetisa e educadora chilena, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 1949, 

Nenhum comentário:

Postar um comentário