segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Kintarô

* Por Daniel Santos

Desde que as feras se insurgiram contra o sábio, ele se entocara sem idéias numa gruta, onde acudiu-o a suprema ventura: sonhou com Kintarô, um menino todo de ouro. Ao despertar, olhos vazados pela graça, o pequerrucho engatinhava à sua volta!

O eremita conheceu, então, a felicidade. Ou quase. Porque os urros continuavam dispersando-lhe as idéias. Pior: certa manhã, deu por falta da criança. Ao olhar para a floresta, franziu-se de desespero ao ver o menino, risonho e inocente, entre as bestas!

E aconteceu:  com a magia dos dedinhos, acarinhou as feras até adormecerem – mansas, enfim! Correu, depois, ao velho que o acolheu  como quem resgata o ouro das próprias idéias. Num abraço, fundiram-se para sempre – o sábio e Kintarô.

(Livre criação sobre mito japonês)

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.

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