domingo, 25 de outubro de 2015

De coração escancarado



* Por Pedro J. Bondaczuk


O poeta olímpico alemão --- uma das glórias não somente da literatura germânica, mas das artes e das letras universais de todos os tempos ---, Johann Wolfgang Göethe, registrou, em um dos seus tantos e memoráveis escritos, que "o homem é sempre o assunto mais interessante para o homem". E se atentarmos bem, concluiremos que se trata de inquestionável fato!

Há todo um elenco de crenças, de dúvidas, de comportamentos, de angústias e de sentimentos que julgamos íntimos, singulares e pessoais, mas que na verdade são comuns a todas as pessoas, não importando sua nacionalidade, sua condição social, sua filosofia, sua religião ou o seu grau de cultura.

Por isso, não tenho nenhum, nem o mais ligeiro pudor, em abrir o meu coração aos leitores, em desnudar minhas emoções em público e em revelar coisas que o bom senso manda calar e que a lógica recomenda que sejam ocultadas. O que para alguns pedantes, que pretendem ser árbitros do comportamento e do bom gosto,  pode soar piegas, pretensioso e "cafona", para indivíduos simples, de alma pura e que sabem compartilhar de tudo, desde bens materiais a pensamentos e sentimentos, acaba por se constituir em uma benfazeja, sadia e indispensável comunicação, quando não na generosa partilha do patrimônio espiritual ou na benéfica comunhão de ideais e de aspirações.

Aliás, este gratíssimo (pelo menos para mim) exercício diário da crônica (sim, amigos, há vinte anos escrevo pelo menos uma delas por dia), textos publicados internet afora, além de em jornais impressos, que cumpro, religiosamente, com a maior satisfação e orgulho (e não sem uma imensa dose de ingenuidade), é mais do que mera, eventual e tímida abertura do coração.

É um contínuo escancarar das emoções. É um talvez insensato arrombamento das comportas da timidez. Mas é, sobretudo, um delicioso e despreocupado bate papo com pessoas que, na maioria, não tive (e provavelmente nunca terei) o privilégio de conhecer pessoalmente e que ainda assim têm a generosidade de me dar o retorno das mensagens que busco transmitir.

Através do bem vindo recurso da Internet, em especial do e-mail, invariavelmente, esses leitores sensíveis e atentos manifestam-se, com espontaneidade, com grandeza e com generosidade, mesmo quando não compartilham das minhas opiniões. Elogiam, criticam, fazem reparos, condenam ou agradecem as crônicas (já são 3.108 publicadas em vários espaços desde 1995, ou seja, vinte anos de convívio) ditadas pela minha experiência de vida, pela imaginação, por algum palpite ou pela incontida necessidade de compartilhar alegrias, iras, indignações ou tristezas.

Há aqueles de mais iniciativa, inclusive, que têm o capricho de pesquisar até descobrir o telefone da minha casa para, de viva voz, manifestarem sua aprovação (ou reprovação) àquilo que escrevo. Essa atitude, quer seja para enaltecer, quer para criticar, acaba sendo extremamente gratificante e por isso desejável. É, acima de tudo, bastante útil, por me fornecer um parâmetro de como, o que e para quem escrever.

Esse elo, estabelecido com os caros leitores, público exigente e especial, é o maior prêmio que eu poderia aspirar por esses anos todos de exercício da atividade de comunicador, quer como radialista, quer como jornalista ou quer como escritor, que me trouxe mais mágoas, tristezas e decepções do que eventuais recompensas, mesmo as materiais, que são secundárias.

Escrevo para os simples, os humildes, os sinceros, os que acreditam na virtude e a cultivam, aos ingênuos e puros de coração. Quero comunicar-me com os que têm a visão exata dos objetivos da nossa curta, rapidíssima e na maioria das vezes tormentosa passagem por essa vida. Amo os sinceros e a sinceridade, os humildes e a humildade e os simples e a simplicidade, tão bem retratados nestes magníficos versos de Guilherme de Almeida:

"Simplicidade...Simplicidade...
Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio...Por que não há de
ser toda gente também assim?

Ser como as rosas: bocas vermelhas
que não disseram nunca a ninguém
que têm perfumes...Mas as abelhas
e os homens sabem o que elas têm!

Ser como o espaço, que é azul de longe,
de perto é nada...Mas quem o vê
--- árvores, aves, olhos de monge... ---
busca-o sem mesmo saber por quê.

Ser como o rio cheio de graça,
que move o moinho, dá vida ao lar,
fecunda as terras...E, rindo, passa,
despretensioso, sempre a cantar.

Ou ser como a árvore: aos lavradores
dá lenha e fruto, dá sombra e paz;
dá ninho às aves; ao inseto, flores...
Mas nada sabe do bem que faz.

Felicidade --- sonho sombrio!
Feliz é o simples que sabe ser
como o ar, as rosas, a árvore, o rio:
simples, mas simples sem o saber!"

Eu devo esta gratidão aos caros leitores! E prometo tudo fazer para durante ainda muitos anos satisfazer suas expectativas e aprimorar esse gratificante contanto diário em diversas mídias. De coração escancarado, só posso dizer-lhes: muito obrigado pela honra do seu prestígio!


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
   


Um comentário:

  1. Você que é das datas, assim como eu, certamente não escreveu isso aleatoriamente, mas num dia específico. Imagino que hoje seja o aniversário da sua primeira crônica. Imensa obra. Eu comecei há dez anos e raramente escrevo mais de um texto por semana. Não dá para comparar com a sua produção. Reclamação: o nariz de cera me levou a acreditar numa grande revelação. Enganou-me, garbosamente.

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