terça-feira, 22 de setembro de 2015

Verdi e Rigoletto


* Por Wellen de Barros

Tragédia e inconformismo fazem do compositor de “Rigoletto” Giuseppe Verdi um fiel representante de seu povo sofrido pelas invasões napoleônicas, forças russas e austríacas. Tudo isso, muito antes de se tornar um famoso compositor.

Foi por conta de suas posições políticas em favor da libertação da Itália que depois da unificação, em 1874, o Rei Vittorio Emanuele nomeou-o senador. Verdi, por conta de sua longevidade (1813 – 1901), assistiu a todo um processo de transformação política da Europa e participou de forma ativa das modificações que levaram a música a acompanhar os novos tempos.

Verdi estava trabalhando na música de La Maledizione (o primeiro nome proposto para “Rigoletto”), mas teve problemas com a Direção Central da Ordem Pública quando esta  exigiu que lhe fosse informado o libreto da ópera: as autoridades haviam sido informadas de que La Maledizione se baseava no drama Le Roi S'Amuse, de Victor Hugo. O enredo fazia alusão direta ao Rei Francisco I, um libertino amante dos prazeres, e explorava o drama de seu bufão, Triboulet, anão corcunda, totalmente dominado pelo complexo de sua deformação. Triboulet odeia o rei porque é rei, os nobres porque são nobres e os homens em geral porque não têm, como ele, uma corcova às costas. Sua principal diversão é fazer com que o rei e os cortesãos briguem continuamente entre si, os mais fortes esmagando os mais fracos. Ao mesmo tempo cultiva a libertinagem do rei, introduzindo-o nas famílias dos cortesãos, apontando-lhe uma esposa para seduzir, uma irmã para raptar, uma filha para desonrar.

Assim, antes de terminar o trabalho, Verdi tinha sua nova ópera proibida pela censura. Ao lado disso tudo, as negociações se desenvolviam em ambiente dramático, pois acima de qualquer preocupação com a moral e os bons costumes havia sim uma rigorosa censura a tudo o que pudesse se relacionar com a decadência da aristocracia austríaca e reforçar o movimento da unificação e independência italianas.

Nasce finalmente “Rigoletto” (corruptela de Triboulet). A ação se desenvolveria em Mântua no século XVI, o duque libertino seria chamado de Duque de Mântua. Verdi só não aceitou mudar o aspecto físico do bufão.

Verdi acentua o melodrama em sua obra criando um personagem como algo complexo, bem próximo à vida real. Rigoletto, o bufão, é deformado e mau, mas também é pai afetuoso e digno de piedade; o duque é bonito externamente, mas corrupto por dentro; Gilda é bondosa e meiga, mas capaz de contrariar as ordens do pai e se deixar seduzir pelo duque. Segundo Verdi o duque tem um caráter nulo e deve ser um libertino.

A elegância literária cede à desordem dos sentimentos. Em Rigoletto, não há meio–termos: o espectador é levado, repentinamente ao centro da ação.


* Cantora do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Possui formação em Piano e Harmonia pelo Conservatório de Música de Niterói. Estudou interpretação Operística, História da Ópera, História da Música e Canto Lírico no Rio de Janeiro. Como professora do Conservatório de Música, desenvolve projeto de Apreciação Musical junto a estudantes de ensino médio e universitários. É pesquisadora de dança e música, e escreve artigos para o Theatro Municipal sobre ópera, música sinfônica e ballet. Como pesquisadora, atualmente desenvolve um projeto de estudo e pesquisa sobre a arte do ballet e do canto. 



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