terça-feira, 29 de setembro de 2015

O despacho


* Por Ana Deliberador


Zelinha era uma mulher muito inteligente – brilhante mesmo – mas com um sério problema: era de uma desorganização financeira de dar dó. Vivia em desespero por falta de dinheiro.

E aquela era uma dessas ocasiões em que tudo dava errado. Andava com uma “urucubaca”  danada. Desesperada resolveu dar uma última cartada: procurou um pai de santo num terreiro de umbanda. De lá saiu com a promessa de que a situação iria ser resolvida. Bastava trazer um urubu pra ele fazer o trabalho.

Muito reservadamente, conversou com um soldado que lhe tinha muito apreço  e,  muito sem graça, fez-lhe o estranho pedido.

– Tudo o que a senhora me  pede é uma ordem, doutora! respondeu o homem, e foi em busca da ave, muito abundante lá pelos lados do matadouro.

Dia seguinte, lá veio ele com um saco com algo dentro que se mexia, desesperadamente.

- O prisioneiro ta aqui, doutora! – disse o soldado, feliz pela missão cumprida.

Zelinha voltou, então ao terreiro e escreveu, em uma folha branca, tudo o que lhe afligia.

O pai de santo amarrou o papel no pé do urubu, levou o assustado animal até a porta e o soltou, dizendo:

– Todos os seus problemas acabaram. Voaram junto com esse urubu!

Zelinha voltou para casa feliz, esperançosa. Jantou e dormiu bem, como há muito tempo não fazia. Acordou com o mesmo ânimo, tomou banho, se arrumou e foi para o trabalho.

E…nada!

Tudo continuava tal qual antes!

* Professora, pintora e escritora


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