sábado, 26 de setembro de 2015

Igreja


* Por Carlos Drummond de Andrade


Tijolo
areia
andaime
água
tijolo.
O canto dos homens trabalhando, trabalhando
mais perto do céu,
cada vez mais perto
mais
--- a torre.

E nos domingos a litânia dos perdões, o murmúrio das invocações.
O padre que fala do inferno
sem nunca ter ido lá.
Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.
Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.
A manhã pintou-se de azul.
No adro ficou o ateu, no alto fica Deus.
Domingo...
Bem bão! Bem bão!
Os serafins, no meio, entoam quirieleisão.



* Poeta, contista e cronista

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