sábado, 29 de agosto de 2015

Prêmio pago

Por Rosana Hermann


 Não vou cometer a indelicadeza ou a leviandade de divulgar nomes, nem de pessoas físicas nem jurídicas. Este é um espaço literário e não de denúncias. Mas faço questão de dizer que até recentemente eu não tinha certeza da ligação entre premiações e pagamentos. Mas agora, tenho.

Quando fui trabalhar com propaganda, fiquei surpresa e chocada ao ver que a maioria dos prêmios importantes, aqueles que premiam campanhas fantasmas, cobram uma fortuna para inscrever cada peça. Só quem tem muito dinheiro é que pode investir nestas premiações. Não sei dizer se há ou não influência política nas decisões mas eu soube de um prêmio ao menos cujo resultado final é selecionado pelos patrocinadores.

Pois hoje, eu recebi um email referente a um prêmio que me deixou pasma. Quero deixar bem claro que não me inscrevi no mesmo e só soube ter sido laureada ao receber um ramalhete de flores em minha casa. Li o cartão, entrei no site, conferi o resultado. Eu tinha mesmo recebido o prêmio em uma determinada categoria. Em seguida, recebi um convite eletrônico para a festa de entrega do prêmio. Até aí eu estava achando tudo interessante e até lisonjeiro. Até que recebi um email dizendo que era esperado que cada vencedor adquirisse ao menos dez convites para o jantar de premiação, no valor de duzentos reais cada um. Trocando em miúdos, cada vencedor seria responsável não apenas por levar dez pessoas mas também pagar dois mil reais para que eles comessem. E tudo, claro, em nome da chiqueteria do evento.

O que mais me sensibilizou, porém, foi a colocação de que a pessoa que, ‘por motivos justos’, não adquirisse o convite, não ficaria fora da festa. Fiquei me perguntando qual seria o tamanho do constrangimento de um premiado em submeter a julgamento do promotor da noite se os seus motivos para não pagar dois paus seriam ou não motivos justos. Particularmente, tenho uma coleção de motivos justíssimos para não adquirir os convites, não ir à festa, não receber o prêmio e não responder ao email.

Sei que estas coisas existem, acontecem, mas a insegurança de me ver envolvida em situação tão vexaminosa me obrigou a pesquisar o nome do remetente da mensagem na Internet. Fiquei aliviada. Um artigo do Alberto Dines referia-se a esta pessoa como um picareta, que vive de pequenos golpes e expedientes. Ou seja, não era um delírio, não era paranóia minha. Constatei o óbvio, não existe almoço grátis. Nem jantares. Mas, convenhamos, em se tratando de jornalistas, é bem mais difícil de engolir.

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.



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