sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Pobre diabo



* Por Eduardo Oliveira Freire


... Gente arrogante! Sempre tem alguém que me diz: "Você tem que contar tudo". Não quero. Agora estou em casa, escrevo no computador e às vezes vou ver o mar. Plagiando, na cara-de-pau, Clarice Lispector, a imensidão do mar é a imagem refletida da minha essência. Tudo que escrevo não é original, todos nós somos seres amórficos com capacidade de digerir pensamentos e teorias que nos antecedem há gerações. Nada é novo e sim repaginado.

Um amigo disse que escrevo as mesmas coisas, está certo. Sou como as ondas, vou e volto... até na época das ressacas de inverno. Uma vez me disseram que devemos resolver os nossos problemas, se não acumulam. Ora, não somos um poço de alegrias, tristezas, perdas e recalques? Vida real é deste jeito, se você ganha de um lado, perde de outro. Se você é bem-resolvido numa área, em outra, é uma droga. Não me venha com a lógica racional ou de auto-ajuda. Somos bestas feridas e famintas, que constroem castelos de nada.

O pessoal da minha família se divide em dois grupos: os que me acham vagabundo e os que me acham maluco. Sou um pouco vagabundo e maluco. A vadiagem e a loucura que tenho me acompanham, desde quando minha mãe me pariu. Tentei mudar, não consegui e o pior de tudo é que se pelo menos fosse um artista genial, talvez justificasse minhas excentricidades.

Gosto de observar minha filha na escola. Fico de longe, ela é linda. Muitas vezes, parece ser minha mãe: "Papai, você tá fedendo... Papai, quando você vai crescer e ser pai de verdade". Ela foi um delicioso acidente que aconteceu na minha vida. A última notícia que tive da mãe dela, era que virou prostituta na Itália. Quem cuida da menina são os meus pais e eu sou o irmão-mais-velho-desajustado que só arranja problemas.

Ultimamente, fico horas no computador trancado no quarto. Todos lá de casa perguntam o que escrevo tanto "neste maldito computador". É difícil explicar, só sei que me sinto bem, paro de pensar asneiras. Quando termino, vou direto para cama e apago. Acordo e recomeço a mesma rotina. Estou trocando os antigos vícios por um novo. O analista disse que não estou resolvendo os meus problemas e que somente os aglutino.

Mas a vida não é um jogo de vídeo-game em que se precisa vencer as etapas e as dificuldades. Quem é feliz pra sempre? Quem é bem resolvido? Quem não tem fantasmas? Quem não tem um pouco de mesquinhez? Quem não tem manias obsessivas? Quem não tem certo quê de perversidade e tenta se controlar para não cair totalmente no lado obscuro?...

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, está cursando pós-graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor, blog http://duduoliva.blog-se.com.br

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