domingo, 26 de julho de 2015

Jardim de Imprevistos


* Por Fernando Mariz Masagão


Algumas coisas precisavam ser ditas antes que pudéssemos nascer. Algo para deixar a peleja um pouco mais em pé de igualdade. Deveria haver um anjo paternal e beijoqueiro que, carregando Schopenhauer sob suas asas, pousasse as mãos em nosso ombro e nos dissesse: “Olha, a vida não é bolinho. É cheio de filho da puta lá embaixo. Se você não vencer a vida, ela te vencerá... Você tem certeza?” E, sapecando dois ósculos celestiais, rematasse: “Então, te cuida. Boa viagem”.

Nascer deveria ser facultativo. As cousas certamente sairiam melhores por aqui. E muito choro seria poupado nas maternidades. Isso, claro, se votarmos crédito ao ocidente. De minha parte só posso crer num Deus que escute Rock and Roll, encha a cara e se pergunte: “Onde foi que eu errei?” E eu acredito, mesmo que ainda não possa rezar ou assobiar tranqüilo nas tardes cálidas de sol. Mesmo que Schopenhauer seja de uma covardia infantil.

Quisera eu ter o que dizer às minhas veiazinhas oculares neste momento vaso-constritor. Mas acho que elas suspeitam que eu não canto como Elvis, nem posso amar como o Vinícius de Moraes.

Amanhã os vizinhos lerão no jornal zombarias de toda sorte. Amanhã muitas vozes não se furtarão em desafinar. E o mundo continuará a ranger sua dor de estômago crônica e as flores mais bonitas continuarão a brotar neste jardim de imprevistos.

E ainda assim Rogério Ceni seguirá como o maior dos goleiros na história.

*Fernando Mariz Masagão é músico, dramaturgo, poeta e colaborador de publicações online sobre arte, com crônicas e críticas musicais. Guitarrista e vocalista de bandas de rock'n'roll, tem formação clássica vigorosa, em cursos de regência sinfônica, apreciação musical e instrumentação.   


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