quinta-feira, 25 de junho de 2015

Poema da Grande Transformação (Arcano 13) 

* Por Luís Augusto Cassas


A primeira vez 
que a Morte passou pela minha vida, 
caíram-me por terra 
a coroa do império, o cetro do orgulho, 
o castelo da vaidade. 
E fui ficando mais leve 
do enorme peso da vida. 

A segunda vez 
que a lâmina da Morte passou pela minha vida, 
cortou-me os braços 
e todo o apego fugiu-me por entre o dedos. 
E fui ficando mais livre 
do enorme peso de existir. 

A terceira vez 
que a lâmina da Morte passou pela minha vida, 
cortou-me as pernas 
e aprendi a caminhar com os próprios passos. 
E fui ficando mais livre 
do eterno peso de existir. 

A quarta vez 
que a lâmina da Morte passou pela minha vida, 
rasgou-me o horizonte do coração 
e todas as estrelas do futuro 
caíram-me aos pés. 
E fui ficando mais solto 
do pesado fardo de ser. 

A enésima vez 
que a Morte passou pela minha vida, 
já estava podado 
de quase todos os excessos do ego. 
Separado o espesso do sutil, 
reduzido à essência do ser. 
E fui ficando mais leve 
do aéreo peso da vida. 

A última vez 
que a Morte passou pela minha vida, 
decepou-me o pescoço e a esperança. 
Minha cabeça rolou pelos campos de toda memória. 
Estava livre de todo o excesso da matéria 
e comecei a viver.
 

* Poeta de São Luís/MA



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