terça-feira, 30 de junho de 2015

Mulheres como elas são


O papel da mulher – quer no lar, quer em sociedade –  “sempre” (ou quase sempre) foi determinado, ao que se sabe, pelo homem. Isso, pelo menos, no período da História (com início em torno do ano 7.000 antes de Cristo), e não do que se convencionou chamar de “Proto-História”. O patriarcado predominou em todas as partes e em todos os tempos, pelo menos dessa época, supostamente desde o fim da pré-história, quando o ser humano ainda habitava as cavernas primitivas e não contava nem com leis (a não ser a “do mais forte”) e nem com tradições (que nasceram, compreensivelmente, com a sucessão de gerações).  Houve (e há) exceções. Mas estas são escassas. São casos isolados, ocorridos aqui e ali.

Os historiadores, porém, com base em descobertas arqueológicas, falam de sociedades matriarcais, em que o papel de liderança e poder era exercido por mulheres. Charles Darwin defendeu essa tese. Justificou com o fato de serem elas as geradoras de novas vidas. A própria lógica sugere que em épocas muito remotas – qualquer coisa em torno de 25.000 antes de Cristo, ou pouco antes – a população humana era bastante escassa, e esparsa. A longevidade das pessoas mal chegava a parcos anos, talvez, no máximo, duas a três décadas, se tanto, dadas as péssimas condições de vida: de alimentação, de higiene, de habitação etc., além da ação predatória das feras mais fortes e mais ágeis que as atacavam com frequência. A maternidade seria encarada, então, como ato de “magia”, já que aqueles seres primitivos não relacionariam a gravidez com o ato sexual. A mulher, portanto, seria vista como a “garantidora” da sobrevivência da espécie. E isso lhe garantiria respeito e poder.

As coisas se passaram, realmente, assim? Como saber?! Só se pode especular. Mas que essa tese faz todo sentido, convenhamos, isso faz mesmo. Todavia, salvo uma ou outra exceção, o que predominou foi sempre o patriarcado. O homem assumiu o poder, governou nações, empreendeu guerras, praticou toda a sorte de disparates e de violência, sem a participação feminina. A partir de quando ele passou a ser prevalecente (admitindo que houve uma época em que o matriarcado seria a regra)? Sabe-se lá! Pode-se especular, mas saber, saber mesmo, sem sombra de dúvidas, com a certeza baseada em provas concretas e inquestionáveis (que ademais não existem) ninguém sabe. Ainda assim... desde que a Literatura (sobretudo a de ficção) nasceu, alguns escritores criativos conseguiram criar personagens femininos inesquecíveis, mesmo tendo um papel social tão restrito e sendo minoria em relação aos masculinos.

Isso não é de se admirar. Afinal, até por instinto, a mulher é, e sempre será, o grande sonho de qualquer homem “normal”. Temos, todos nós, várias delas em nossas vidas e com importância vital (umas mais, outras menos). Sem elas, sequer nasceríamos, óbvio. Nossas mães são, além de nossas geradoras, nossas primeiras nutrizes e principais educadoras, ensinando-nos tudo o que é essencial à nossa sobrevivência. Ademais convivemos com irmãs, tias, primas, avós etc., cada qual com sua importância no nosso desenvolvimento e biografia. Culminamos por eleger determinada mulher para ser, simultaneamente, amante, amiga, cúmplice, parceira, em suma, nosso amor. Alguns, é verdade, sequer sabem amar. E isso ninguém lhes ensinará jamais.  Estes querem mulheres submissas e dóceis, obedientes à sua vontade e aos seus caprichos (ou desmandos?), como se fossem meros objetos para satisfazer seus desejos (físicos e ou afetivos).  Há muitos e muitos e muitos que as querem assim. E, salvo alguma  rara exceção, dão-se mal. Não sabem amar e por isso dificilmente serão amados. Talvez sejam temidos, mas...

Admirável, portanto, é o fato de haver personagens femininas inesquecíveis em tão pouca quantidade, tendo em conta a prevalência de homens no fazer literário. Elas deveriam ser absoluta maioria, diz a mínima das lógicas, Não se trata de “divinizá-las”, mas de compreendê-las. Trata-se de saber como de fato são (e não como as imaginamos). O escritor que se proponha a criar personagens femininas que se tornem inesquecíveis deve tentar detectar (e descrever), antes e acima de tudo, o que elas pensam, o que querem, quais são seus sonhos, ideais, sentimentos e motivações. Precisam retratar seres humanos, de carne e osso, inteligentes e sensíveis, e não se ater a simples estereótipos.

É fácil estereotipar personagens. Qualquer rabiscador de textos é capaz de fazer. Contudo, só os muito talentosos – os observadores, os que fazem literatura com paixão e inteligência – criam protagonistas verossímeis, como as que encontramos nas ruas, no trabalho, na faculdade e principalmente em nossa casa. E o que se nota nos romances, contos, novelas e peças teatrais da maioria dos escritores (de ontem, de hoje e de sempre)?    Nota-se que criam estereótipos, em vez de pessoas do sexo feminino. Afinal, queiram ou não, grande parte das mulheres da Literatura é sofredora. Mas... na vida real, convenhamos, nem todas são assim. Voltarei certamente ao tema.

Boa leitura.

O Editor.

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