sexta-feira, 19 de junho de 2015

Dia dos Namorados


* Por Eduardo Oliveira Freire


TIA LULU”  acordou triste, mais um ano que ela ia passar sozinha o Dia dos Namorados. Estava uma manhã fria. Contudo, tomou um banho para espantar o mau-humor e a preguiça. Saiu de casa arrumada e cheirosa. “A esperança é a única que morre”. Encontrou o Fernando, ele a olhou e deu um sorriso. “Fernando não. Só que saber de prensar as meninas no paredão. Não quero isso. Quero um homem que sabe conversar”.

Quando ia atravessar à rua, veio o Anderson, lhe ofereceu uma carona. Ele quase a comia pelos olhos. “Ele é casado e a sua  mulher é barraqueira.  Se ela descobrir que peguei uma simples carona com o marido, vai fazer o maior barraco na minha casa. Vai falar que sou amante do Anderson. A minha mãe é cardíaca, pode até morrer de desgosto e o meu pai me expulsará de casa gritando: Sua vagabunda!!!!!! Não é mais a minha filha!!!!”.

A moça inventou uma desculpa e se livrou do abacaxi”.  Já no ônibus, percebeu que um homem bem vestido a paquerava. Seu corpo tremeu de emoção. Quando uma senhora, ao seu lado, levantou-se para descer do ônibus, o homem foi sentar-se perto dela. A moça achou que ele ia flertar, quando ele se aproximou e falou perto do seu ouvido, porém,  foi surpreendida: “fica quietinha, isso é um assalto. Perdeu, perdeu.”. Assustada, deu dinheiro, celular e um anel de ouro que havia ganhado da madrinha. Chegou arrasada na escola em que trabalhava, todavia, ao entrar na classe o humor voltou. Adorava dar aula, esquecia de todos os seus problemas.

Quando terminou a aula. Júlio, o menino mais tímido da turma, pediu para conversar com a “Tia Lulu” . Ela disse que tudo bem, perguntou se estava com alguma dificuldade nas matérias ou se algum colega de classe implicou com ele. Sempre protegia o Júlio dos outros meninos, “garotos frágeis sempre sofrem na escola”.

– Tia Lulu, tem namorado?
– Por que quer saber?
– Por nada. Mas você tem ou não tem.
– Menino intrometido, mas não consigo ficar braba com você. Está bem... não tenho.

O menino deu um sorriso que iluminou o seu rosto, pegou uma folha de papel amassado da mochila: – Toma de presente!!–. Saiu correndo.

A jovem professora viu o menino ir até onde estava a sua mãe.  Abriu a folha. Havia um desenho de um coração enorme e no meio: Tia Lulu e Júlio. Ela ficou tão emocionada, que chorou de alegria e tristeza. “Momentos assim é que  confirmam que escolhi a profissão certa. Júlio, tão gentil. Tomara que ao crescer continue assim. Mas, homens gentis sofrem mais.  Júlio, queria tanto dizer que tudo vai dar certo e que vai viver num mundo bem melhor do que o meu”.

* Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Está cursando Pós-Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e está aspirante a escritor.

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