quarta-feira, 24 de junho de 2015

Aproxima quem está longe e afasta quem está perto

* Por Mara Narciso


Culpa antes creditada á televisão, há tempos a internet é acusada de acabar com a conversa na sala ou à mesa do jantar. Ou na rua e até no bar. Também a rede fez aumentar o número de escritores e reduzir o de leitores. Apenas textos curtos são lidos. Passou de um parágrafo, poucos se atrevem a ir até o fim. Cada época com seus costumes e há 20 anos foi criada a primeira rede social, ClassMates nos Estados Unidos e Canadá, para reunir colegas. Seguiram-se Friendster, MySpace (2003) e LinkedIn. Depois vieram Orkut (extinto) e Facebook em 2004. O Youtube começou em 2005 para receber vídeos e o Twitter com mensagens de 140 caracteres em 2006. O WhatsApp, propriedade do Facebook, foi criado em 2009. No Brasil, 83% dos internautas estão no Facebook e 58% no WhatsApp (dados do governo em 2015).

Desde 1993 vejo pessoas da minha família conectadas à internet, surfando e falando ser uma maravilha esta ferramenta de comunicação instantânea. Entrei em 2000 e comecei a fazer amigos virtuais no chat Terra em 2001. Estive em redes sociais das quais perdi a senha e o nome, participei do Orkut e hoje estou no Twitter, Google, Facebook e WhatsApp. Desde fevereiro de 2015 foi criado no WhatsApp o grupo Família Narciso para aproximar pessoas da segunda à quarta geração, filhos, netos e bisnetos de Petronilho Narciso. A lista telefônica da agenda migra automaticamente quando se faz o download do programa, mas para entrar no grupo é preciso solicitar ao moderador.

No momento, somos 42 e a opinião geral é de que está sendo uma agradável experiência. De cinco da manhã, - os madrugadores acordam o galo -, e até depois de meia noite os fãs do corujão estão dando notícias. Não nos afastamos completamente, mas os netos e bisnetos dos tios, já estavam meio distantes, e este grupo está propiciando conhecer melhor os primos e recriar laços de afeto e amizade. No momento não há quem more no exterior, pois quem lá esteve já voltou. As viagens para fora do país são frequentes, dado o alto número de pessoas, gerações diferentes, interesses múltiplos, o que torna a troca de informações dinâmica e útil.

No sentido norte sul há quem more no Oiapoque (Amapá) e Açailândia (Maranhão) e quem more em Florianópolis (Santa Catarina). No sentido leste oeste, há quem resida no estado de São Paulo e em Minas Gerais. Boa parte está em Montes Claros, para onde meu avô se mudou rapazinho. A comunicação a cada momento leva o grupo para vários lugares através de textos, fotos, áudios e vídeos. Nos dias mais movimentados em uma hora podem chegar dezenas de mensagens. É preciso tirar o som de aviso, senão ninguém trabalha. Apenas a luzinha fica piscando.

Melhor enviar mensagens curtas. Por escrito, é preciso ter cautela e não levar ao pé da letra. É preferível não procurar nas entrelinhas. O texto digitado não tem entonação, e pode causar mal-entendidos. O melhor é escrever com clareza, e não retrucar. Tem dado certo. Esta regra vale não só para a família de sangue como também para outros contatos. A educação e a compostura precisam valer, e o que se faz online repercute na vida real. No caso do nosso grupo familiar tem sido benéfico na alegria e na tristeza e quando o assunto pede sigilo, fala-se no reservado.

Pode-se viajar graciosamente e comer com os olhos nas fotos postadas. O curioso é que a vida dos outros parece mais interessante do que a nossa, num dado momento. Esta proximidade gera alegrias (até euforia com as conquistas alheias) e preocupação com provas, testes, exames médicos, doenças e mortes. Em todas as situações é melhor participar e repartir. A solidariedade conforta, acalenta e torna-se colo. Isso nos tem propiciado maior proximidade, afeto e aconchego. E quando a reunião é ao vivo, sente-se maior acolhida por se estar a par das informações mais importantes. Alerto para que o uso seja racional (alguém sabe o que seja isto?), para não cair no efeito colateral mais frequente da internet: afastar quem a gente ama, por falta de tempo de se olhar nos olhos, afagar os cabelos, abraçar. Tudo dividido é melhor. Especialmente pele com pele.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   



2 comentários:

  1. O título encerra uma grande verdade, muito bem desenvolvida pelo seu texto, Mara. Que saibamos tirar do mundo virtual o melhor e mais responsável proveito. Abraços.

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    1. Estou procurando o equilíbrio, mas estou mais viciada do que gostaria. Abraço, Marcelo!

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