quinta-feira, 28 de maio de 2015

Manual de uso do manual


* Por Marcelo Sguassábia


"Parabéns! Você acaba de adquirir o que há de mais avançado...". Se o seu Manual não começar assim, devolva o produto. Não o produto, o Manual dele, pois não é um Manual legítimo, como manda o figurino. Sua devolução ao redator responsável está prevista no Código de Defesa do Consumidor. Bem, se não está, deveria.

Uma vez lido (pelo menos em suas principais partes) e estando o produto funcionando normalmente, use o Manual como calço de pé de mesa bamba ou outra utilidade do gênero. Isso porque já acabou a etapa em que você tinha que tê-lo à mão, ou seja, na instalação da geringonça. Se precisar de novo dele para alguma eventualidade, é mais fácil consultar na internet - que baixa no seu colo em PDF todos os manuais já redigidos pelo homem.

Há indústrias que alegam a obsolescência do Manual, e que a sua eliminação pura e simples como item constante na embalagem do produto poderia reduzir o preço final em até 3%. O argumento é que quase a totalidade dos consumidores lê e aplica apenas as instruções do guia de instalação rápida, adiando a leitura do Manual completo para o fim de semana seguinte. Acontece que o fim de semana chega e, com ele, coisas bem mais interessantes para ler do que o nosso injustiçado Manual.

É bom lembrar que todo e qualquer Manual sai de fábrica com garantia de um ano contra defeitos de compreensão. Se mesmo após sucessivas tentativas de leitura o problema persistir, ainda assim você poderá seguir alguns procedimentos antes de levar o seu Manual à assistência técnica:

. Verifique o tamanho da letra do texto e certifique-se de que ela é compatível com sua acuidade visual. Consulte seu oftalmologista para informações mais detalhadas.

. O problema pode estar na luminária - demasiadamente afastada ou com lâmpada de baixa potência. Na dúvida, leve-a ao seu eletricista de confiança e siga suas instruções antes de empreender nova tentativa de leitura.

. Por ter esse nome - Manual - fica implícito que o mesmo não é automático. Se assim fosse, suas instruções entrariam no cérebro sem o esforço consciente da parte do consumidor. Assim, conforme-se com as limitações intrínsecas do mesmo e sua natureza enfadonha.

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).



Um comentário:

  1. Perfeito cujo clímax aconteceu quando o prazo de validade do Manual surgiu em cena: um ano.

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