terça-feira, 26 de maio de 2015

Falta de energia elétrica


*Por José Calvino


Num pequeno bairro, ironicamente chamado de Novos Rumos, recentemente faltou energia elétrica por aproximadamente quatro horas. Com isso, consumidores, comerciantes e a população como um todo arcaram com grandes prejuízos, além do diário desconforto que vive aquele povo. Os pequenos comerciantes ficaram preocupados com o estrago dos alimentos perecíveis. Mas, o meu amigo Azambujanra, como sempre espirituoso , tentou até o impossível e o possível para dar continuidade ao comércio de vendas. Tendo o mesmo no seu acervo três balanças: uma que os então donos das vendas pesava nas velhas “Filizola”, a outra com dois pratos em equilíbrio: de um lado pesos de ferro e no outro mercadoria. A terceira era manual (antigamente usada pelos vendedores de macaxeira, etc), esta suspensa com o dedo indicador da mão esquerda e com a mão direita colocava ou tirava conforme  a setinha que marcava o peso desejado pela freguesia. Bom, com permissão de um dos donos de mercado, ele pegou um caderno de anotações e começou a dar aulas às moças dos caixas, que já estavam acostumadas com a nova tecnologia  de registrar pelo computador com leitura pelo código de barras, pesar mercadorias, cartão de crédito, soma total discriminados... Azambujanra, recordando os velhos tempos, iniciou as suas aulas assim:

 “Minhas queridas, eu sei que vocês estão achando um mau negócio, é claro, não se compara com o meu tempo (anos 50), quando vocês não sonhavam nem nascer. O que vou ensinar é simples, basta saber matemática, sobretudo as quatro operações de conta, vamos lá? Primeiro, os clientes fazem as compras como se não estivesse faltando energia elétrica e as mercadorias que são normalmente pesadas na hora serão pesadas nas balanças citadas. Segundo, os clientes ao se dirigirem aos caixas vocês irão anotando os preços das mercadorias, com ajuda, é claro, de alguns funcionários,  somando o total em dinheiro para fins de prestação de contas... Eu sei que assim é muito mais trabalhoso. Mas, antes que me perguntem quanto ao pagamento pelo cartão de crédito, este quem possui pode passar nas máquinas móveis já carregadas, que duram umas horas, o espaço de tempo em que tudo deverá se resolver normalmente. Alguma dúvida?

- E nós vamos trabalhar à noite no escuro? – perguntou uma dos caixas.

- Vocês poderiam acender os candeeiros, mais eles não mais existem, então o jeito é acender velas – disse Azambujanra sorrindo.

Quem lê esta crônica (valendo para todo Brasil), e por coincidência for pequeno comerciante, não terá alguns prejuízos que poderiam ser causados nas possíveis faltas de energia elétrica. A meu ver foi gratificante a vivacidade do amigão e agradável companheiro de longas datas.



*Escritor, poeta e teatrólogo pernambucano. Vejam e sigam Fiteiro Cultural: Um blog cheio de observações e reminiscências – http://josecalvino.blogspot.com/ 


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