segunda-feira, 25 de maio de 2015

Duas mulheres


* Por Talis Andrade



O diadema te dá uma aparência de madona
como nas gravuras medievais
O diadema que realça o louro dos teus cabelos
te empresta um jeito de menina hippie
despreocupada e descalça

A menina conhece todos os caminhos
A madona fica presa em casa
esperando acordada
Tem de abrir a porta
para a menina andarilha
que vem ouvir música pop
A madona fica presa em casa
pensando nas mil desculpas
que tem de dar pela menina
nas mil desculpas
que tem de dar para a menina

Às vezes a madona deseja
o tempo corresse
matando a menina
desde que ficasse
no corpo da menina
desde que ficasse
com o corpo da menina

A menina desconfia da trama assassina
e dissimula o medo
cantarolando tangos e boleros
transbordantes de nostalgia e cerveja
pondo a madona em sossego
como uma gata
uma gata ressonando
no predileto e morno
recanto de uma casa


(Do livro “Romance do Emparedado”, Editora Livro Rápido – Olinda/PE).


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).




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