terça-feira, 28 de abril de 2015

Urinar: necessidade básica nos botecos e também nas estações do metrô


* Por Mouzar Benedito


Você já pegou o metrô de São Paulo depois de tomar umas cervejas? E baixou uma vontade danada de urinar? Como fez para esvaziar a bexiga?

Como já estou no que os babacas chamam de “melhor idade”, que em bom português é velhice mesmo (os gozadores dizem que é questão de DNA – Data de Nascimento Antiga), andei usando banheiros de funcionários, depois de tomar umas e outras, pegar o metrô e desembarcar em alguma estação doido pra urinar. Os funcionários fazem essa concessão para casos como o meu. Muitos, educadamente, mas uma vez tive que falar que se não pudesse usar o banheiro deles mijaria em frente à estação, pois não daria tempo nem para chegar ao boteco mais próximo.

Em outros tempos, uma vez tive uma baita dor de barriga quando ia do Jabaquara em direção ao centro. Desci desesperado do trem em uma estação, perguntei onde era o banheiro, e nela não havia banheiro para usuários do metrô. Peguei o trem seguinte, desci na estação também seguinte, e nela também não havia banheiro para nós, vis passageiros. Tive que sair correndo da estação e, por sorte, havia um bar ao lado dela. Mas para que o dono do bar não implicasse, comprei uma garrafa d’água antes de pedir para usar o banheiro. Aí voltei para o metrô e paguei mais uma passagem.

Fiquei injuriado, e desde então procuro entender o que se passa na cabeça dos responsáveis pelo metrô, nesse sentido.

“Se beber, não dirija”, diz uma campanha governamental. É justa. Mas beber, principalmente cerveja, que é o que mais se consome nos botecos daqui, tem como consequência inevitável a necessidade de urinar. E aí? O poder público que faz campanha para que quem beber use transporte público oferece alternativa para o usuário necessitado de urinar?

É um absurdo que muitas estações do metrô não tenham banheiros para os usuários desse transporte.

Já perguntei a vereadores porque não fazem uma lei obrigando as estações do metrô a terem banheiros públicos, mas me disseram que isso seria inconstitucional. Por que inconstitucional? Alguém me disse que o metrô pertence ao governo do estado, portanto a prefeitura não pode legislar sobre ele.

Mas as estações de trem têm banheiros para os usuários, assim como as estações rodoviárias para transporte intermunicipal, interestadual e até internacional.

Alguém me disse também que marginais, ou simplesmente moradores de rua, usariam os banheiros. Um “motivo” para que eles não existam. Se for por isso, basta que os banheiros sejam depois das catracas. Assim, só quem passasse por elas (e portanto pagassem a passagem ou fossem idosos, que não pagam pelo transporte) poderia usar.

E no caso de “marginais”, o metrô tem uma segurança grande, e não teria problema em colocar um vigilante ao lado dos banheiros.

Estou me lembrando disso agora porque um bar que eu frequento, pequenininho, com apenas seis mesas, funciona num sobrado e os banheiros são no andar superior.

Um dia desses o dono recebeu uma intimação dizendo que tinha que instalar um banheiro para quem tem necessidades especiais e não pode subir escadas. Ou faria isso, ou seria multado.

Foi à subprefeitura para ver como resolver isso, disposto até a usar o espaço de duas mesas, restando só quatro delas para os clientes, para atender a essa exigência, mas aí lhe informaram que ele já tinha sido multado em mais de cinco mil reais. E foi informado também que se em quinze dias não apresentasse um projeto assinado por arquiteto, para construção do banheiro, seria multado de novo.

Ele argumentou que fez tudo dentro da lei quando abriu o bar, há seis anos, recebeu o alvará para funcionar e tudo mais. Queria legalizar tudo, mas quinze dias era um prazo muito curto.

Por que tanta rapidez? Nos seis anos em que seu bar funciona, com alvará da prefeitura, só uma vez apareceu lá um cadeirante. Ah, teve mais um usuário com necessidades especiais: eu mesmo, que tinha feito uma cirurgia e não podia subir escadas. Depois de beber umas cervejas, fui ao bar ao lado, cujo dono é amigo do dono do bar que eu frequento, e usei o banheiro dele, sem problema.

Voltando à exigência da prefeitura, a funcionária que o atendeu, além ríspida e intransigente, foi grosseira e arrogante. Disse que o alvará dele tinha sido aprovado erradamente, e que se ele não tivesse condições de cumprir as novas exigências, que fechasse o bar. Vai ter que demitir empregados? Problema seu e deles.

Não vou citar o nome do meu amigo, nem do bar, porque ele ainda pode receber represálias, mas já quer fechar o estabelecimento, deixando alguns trabalhadores desempregados. Se criaram uma exigência agora, podem criar outras que não terá condições de atender.

Só para construir o banheiro, numa casa que não é dele, é alugada, gastaria uma grana (e teria que ser com projeto de feito por arquiteto e ser submetido a aprovação pela subprefeitura), e além disso ficaria só com espaço menor para os clientes.

Pois é, os órgãos que não ligam para o fato de usuários de transporte público, sejam eles portadores de necessidades especiais ou não, não tenham acesso a banheiros, exigem que um pequeno comerciante faça o impossível.

Se é que o alvará dele foi aprovado de forma errada há seis anos, como disse a funcionária municipal, de quem é a culpa?

Acho correta e civilizada a exigência de dar condições para que cadeirantes e outros necessitados possam usar bares e restaurantes. E que todos os novos bares, deviam ter o direito de funcionar só se atenderem as novas exigências. E também os prédios novos: todos teriam que ser acessíveis para quem tem necessidades especiais.

Os pequenos bares que funcionam há um tempão merecem um pouco de tempo para se adaptar. Quantos bares de São Paulo seriam fechados se forem impor essa regra imediatamente?

E se estenderem essas exigências também aos prédios de apartamentos, será que fechariam todos os prédios construídos pelo BNH, pela Cohab e pelo CDHU? Bairros inteiros, como a Cidade Tiradentes, com centenas de milhares de pessoas, deixariam de existir?

Olha, eu acho que tem gente dentro da prefeitura trabalhando contra o prefeito. Só pode ser. A “teoria da conspiração” pode ser válida neste caso. Parece ter gente agindo para aumentar a impopularidade de Fernando Haddad, como prefeito.

Quando Erundina tomou posse como prefeita, teve muitos casos semelhantes. Ônibus “quebravam” em ruas movimentadas e avenidas, e não paravam junto à calçada, faziam questão de deixar o veículo no meio da rua, de preferência enviesado. “Culpa da Erundina”, diziam…

Haddad já está com popularidade e aprovação bem baixas. Será que tem gente dentro da prefeitura querendo baixar mais ainda?

Será que é intencional essa arrogância que faz com que muita gente odeie o prefeito? O certo é que tem muita gente, inclusive quem votou nele, que já o chama de Prefeito Malddad…


* Jornalista

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