domingo, 19 de abril de 2015

O mistério do sonho



O sonho... O que é o sonho? Vocês já se fizeram essa pergunta? Provavelmente sim. Eu faço-a com constância, contudo nunca cheguei a uma conclusão que fosse minimamente convincente. Não me refiro, aqui, áqueles desejos íntimos, muitas vezes tão secretos que não revelamos a ninguém, nem à pessoa na qual depositemos irrestrita confiança. Não é nisso que estou pensando. E nem penso nos ideais de extrema dificuldade de se conquistar, que desejamos ardentemente e que, se realizados, justificariam, até, nossa existência. Essas duas situações também são classificadas, posto que metaforicamente, de sonhos.

Refiro-me áquelas histórias, uma espécie de filmes nos quais somos protagonistas, que nos passam na mente quando estamos dormindo, a imensa maioria das quais esquecemos completamente tão logo despertemos. Só conseguimos nos lembrar de alguns poucos, daqueles que temos na fase do sono que chamaria de semi-consciência, ou seja, quando prestes a acordar. Pois é, o que é o sonho? Há muitas explicações, algumas ditas científicas, outras partindo para o campo da magia, da fantasia ou até da superstição. Mas nenhuma delas nunca me convenceu. Para mim, tanto umas, quanto outras, não passam de especulações, de palpites, de meros chutes. Explicar, mas explicar mesmo, com a respectiva comprovação, ninguém ainda explicou. Não de forma convincente, que não deixe o mínimo laivo de dúvidas. Creio que jamais explicará.

Há quem se julgue habilitado a interpretar sonhos alheios. Até “dicionários” a esse propósito há, e em grande quantidade. Mas eles são passivos de interpretação? Ora, ora, ora... Se nem os nossos conseguimos entender o que são – se são meras fantasias da mente, do subconsciente, quando livre da vigilância da razão ou premonições, avisos, alertas – imaginem os de outros!! Nos de terceiros, temos, antes e acima de tudo, que confiar na veracidade da narrativa de quem sonhou. Ou não? E como saber se essa pessoa está narrando fielmente o que “viu” quando dormia? Como ter convicção de que não está, se não mentindo, pelo menos fantasiando? Não sabemos! Não há, convenhamos, como saber. Não existe nenhuma forma de comprovar. É algo sumamente íntimo, estritamente pessoal, impossível de ser compartilhado.

Já li muitas, e excelentes, histórias, em que os personagens agem em função de seus sonhos. Posto que bem urdidas, não passam de fantasias de quem as escreveu, provavelmente (vá se saber!) com fundo “zero” de realidade e, portanto, de verdade. Há quem acredite que quando dormimos, nossa alma sai a passear, sem destino, pelo mundo. Claro, é questão de acreditar ou não. Que me perdoem os que acreditam nisso, mas para mim tal crença não passa de mega-disparate. Não ponho a mão no fogo, óbvio, mas é o que penso.

Referências a sonhos, no sentido metafórico, no de desejos ardentes e de ideais difíceis de conquistar, há em imensa quantidade. Clarice Lispector escreveu, por exemplo, que “há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la”. Óbvio que não sonhamos, no sentido literal, o tempo todo com ela. “Desejamo-la”, que é outra forma de sonhar. Outra citação, no sentido de ideal, é uma frase famosa do ex-Beatle John Lennon. Aliás, quase tudo o que ele disse ou escreveu ganhou enorme notoriedade, sobretudo após seu assassinato. O famoso astro afirmou: “Um sonho que sonhes sozinho, é apenas um sonho. Um sonho que sonhes em conjunto com outros é realidade”.

Querem outra citação, dentro dessa mesma linha? Partilho esta, do “mago dos heterônimos”, Fernando Pessoa: “Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso”. Ou esta, do já saudoso Gabriel Garcia Marquez: “Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos porque estão ficando velhas. Elas estão ficando velhas porque pararam de perseguir os sonhos”. Ou esta, do autor dos “Lusíadas”, Luiz Vaz de Camões: “Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las”. Ou então esta outra, da poetisa portuguesa Florbela Espanca: “Não costumo acreditar muito nos sonhos... porque de todos se acorda”.

Citações há muitas, referindo-se a esse fenômeno não sei se fisiológico ou se anímico e ao seu significado metafórico. O que jamais encontrei foi uma explicação lógica, plausível e indiscutível para o que ele é. Para mim, portanto, o sonho continua sendo o que sempre foi: um mistério!

Boa leitura.


O Editor.

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Um comentário:

  1. Não nos lembramos dos sonhos, e quando o fazemos misturamos o que foi nessa noite, com outros anteriores. Num instante esquecemos tudo. Talvez, se escrevêssemos, ficasse um pouco mais na memória. Dizem os psiquiatras que durante o sonho não há censura, mas quando acordamos já vamos podando parte do que aconteceu. Por isso não nos lembramos deles.

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