sábado, 18 de abril de 2015

Eu também quero “engrevidar”


* Por Alexandre Vicente


Antes de começar a escrever sobre o tema, quero deixar claro que não sou contra qualquer movimento legítimo de reivindicação de melhoria de condições de trabalho. Acho que todos têm o direito de lutar por seus salários, reconhecimento, equiparações. Está claro, caro leitor?

Pois bem, todo mundo agora quer entrar em greve. A ordem do dia é essa. Greve de garis, bombeiros, professores, coletivos etc. Todo mundo quer tirar uma casquinha, e o que mais escutamos é: “Imagine na Copa?”

Bom. A Copa. A Copa foi o canto da sereia. Todo mundo queria a Copa. Todas as vezes em que ficamos de fora da escolha como sede,  lamentamos porque os organizadores não sabiam fazer a apresentação e que só mostravam cabrochas, praias e samba. Verdade. Mas eles não estavam errados. O que nós temos são: cabrochas, praias e samba. Só esqueceram de mostrar os corruptos, que são o contrapeso. É sujeito oculto da oração.

Quando mudaram a apresentação e conseguimos a “honra” de sediar a Copa, vieram as festas, as promessas e os projetos. Hoje, faltando um mês, temos greves, obras inacabadas, desvio de verbas, cambistas, especulação imobiliária (pessoas alugando suas residências por preço de até 10% do valor do imóvel por um mês), gritos de “Não vai ter Copa” e, pasmem, cabrochas, praias e samba.

Uma salva de palmas aos primeiros marqueteiros que fizeram os vídeos que mostravam o que realmente temos. Eles é que estavam certos. Se só tínhamos o triunvirato da picardia, mostrar mais o quê? Venham para o Brasil, assistam os jogos e façam turismo sexual.

Olhemos para nosso próprio rabo. Somos os maiores culpados. Nós pedimos a Copa, nós elegemos os capitães do Estado para a Copa e nós pagamos e vendemos ingressos por preços abusivos para a Copa. Até o bombeiro, que era o paladino da moral, vende ingresso superfaturado para os jogos da Copa.

O que fazer se esse ranço maldito está enraizado em nosso sangue? Somos todos farinha do mesmo saco. O bem é conveniente até onde me convêm.

Estamos pagando caro por essa aventura. Que fique de lição, pois como diria o ladrão: “Perdeu, Playboy”. Então “Deixa a menina sambar em paz!”

E agora eu pergunto: “Imagine nas Olimpíadas?”

Maio de 2014


* Escritor e compositor

Nenhum comentário:

Postar um comentário