sexta-feira, 17 de abril de 2015

A festa do “Nego” e da Sandra


* Por Rodrigo Ramazzini



Amigos do Literário, vivenciei esta história há dois anos. Portanto, é verídica. Gostaria de compartilhar com vocês. Aproveitem.

Cheguei observando atentamente o lugar, pois não era sabedor do local exato da festa. Olhei os vários salões festivos existentes e, dentro de um deles, avistei o conhecido Paulão,  simpático motorista de ônibus. Entrei e dirigi-me diretamente a ele, a fim de confirmar se estava no aniversário do Carlos, habitualmente chamado de “Nego”.

Recebido muitíssimo bem pelo Paulão, e com a confirmação, estava eu na festa-surpresa do “Nego”. Sentei-me junto à minha namorada e, logo, a banda formada pelos amigos do Carlos começou a tocar. Os convidados chegaram. O assunto que tramitava nos pequenos círculos de “bate-papo” que se formaram era como o “Nego” reagiria ao chegar à festa. Afinal, era surpresa, tudo organizado, às escondidas, por sua esposa, ou futura esposa (posteriormente explico), a Sandra.

Todos os convidados a postos, luzes apagadas, Sandra chegou com Carlos. Ao entrar pela porta, o “Nego” assustou-se, chegando a saltar para trás. O cântico de parabéns ecoou no salão. A ficha caiu para o “Nego”. Notava-se, em suas expressões, aquele “Eu não acredito que vocês fizeram isso comigo” e um brilho no olhar, por estar entre amigos. Abraços e beijos foram distribuídos, em cumprimentos.

Estávamos já sentados à mesa, esperando o jantar, quando Sandra pediu a palavra. Viria então a segunda surpresa da noite. A primeira, claro, fora o aniversário. Em seu pronunciamento inicial, agradeceu a todos que a ajudaram na realização da festa, bem como aos amigos por ali estarem. Posteriormente, enalteceu o seu amor pelo “Nego”, o “Vida” como ela o chamava. A emoção comoveu a todos. O olhar de Sandra era o atestado de seu amor por Carlos, o brilho verdadeiro da paixão.

Segurada a emoção, após trocar alguns beijos com o “Nego”, Sandra seguiu no seu discurso:
- Quando eu vi esse homem pela primeira vez, eu disse a mim mesma: eu tenho que comer esse “Nego”...

Risadas de todos à mesa. E seguiu ela contando um pouco das dificuldades do namoro, etc. Foi que então:
-... Eu e o Carlos achamos que o papel (referindo-se a casamento) só serve para unir bens, e não o amor.

E chamou uma menina que estava sentada à mesa, que trazia as alianças. Note-se aqui que a festa começava a ficar ao contrário. Inicialmente, era para ser o aniversário do “Nego”. Agora, virou casamento, sendo que a noiva é que pediu a mão do noivo. Ah, tudo isso era surpresa para o Carlos também.

Literalmente, o “Nego” ficou “branco”, sem palavras. Ele, que é o representante da calma dentre os humanos, ficou nervoso. Trocaram alianças. A banda tociu a música “Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida” de fundo. Então, o Paulão, que era o churrasqueiro de plantão, gritou para o “Nego”:
- Beija logo, se não o churrasco vai queimar!

Bela refeição realizada. Tomava uma cervejinha, quando um dos amigos do casal pediu a palavra. Já sabedor do que ocorreria no “aniversário”, e gozador por natureza, não perdeu a oportunidade de satirizá-los. Primeiramente, felicitou o casal pela união, e se dizendo representante dos amigos, entregou alguns presentes em nome de todos. Casamento para alguns é pôr uma “coleira”. Então, de presente, o “Nego” recebeu uma coleirinha amarelinha, com um “Sandrinha” timbrado em preto. Todos caíram em gargalhadas, exceto o amigo que os presenteava, que fazia cara de quem estava fazendo algo importantíssimo. Para a Sandra, o presente foi uma corda, para ela soltar mais o “Nego”, e não levá-lo tanto no “cortado”. O meu maxilar doía de tanto rir. Penso que o de todos.

Casamento sem que a noiva esteja trajada a rigor não é casamento. Sem o vestido, a solução foi pegar a toalha de renda da mesa. Enquanto arrumavam a noiva no banheiro, correu-se até a árvore, em frente ao salão, e confeccionou-se o buquê. A emoção tomou o salão quando a noiva saiu do banheiro, com uma toalha de mesa como véu, e um buquê de galhos de árvore. Até “aia” tinha. O “Nego” a esperava, emocionado por ver sua noiva tão linda. Elegeu-se, dentre os convidados, o padre, que abençoaria o matrimônio. O detalhe é que eles já trocaram as alianças antes da bênção do “padre”.

O arroz sempre surge simbolicamente nos casamentos. No do “Nego” e da Sandra não foi diferente. A única diferença dos demais é que o arroz estava cozido, nada mais que isso. “Banhou-se” então o casal.

Diz a tradição que quem pega o buquê da noiva é a próxima a casar. Então, para ajudar a desencalhar uma moça, designou-se que apenas ela tentaria pegá-lo. Seguiu-se o ritual típico dessa situação. Ameaçou-se uma vez, duas, e foi arremessado. Via-se a esperança brotar no olhar da moça quando ela, solitariamente, agarrou o buquê.

Depois destes episódios – diga-se de passagem, está tudo gravado – a banda voltou a tocar, animadamente...

* Jornalista e cronista

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