sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Viver é que é difícil


O livro de ficção mais vendido no Brasil, neste início de 2015, é um romance lançado em fins de 2014 (embora nos Estados Unidos seu lançamento tenha ocorrido em 2009) que, a exemplo do que ocorreu na terra de “Tio Sam”, caiu de imediato no gosto tanto do público quanto da crítica. Refiro-me a “Se eu ficar”, da jovem (tem 44 anos de idade) escritora californiana Gayle Forman, que antes de se aventurar pelo incerto mundo da Literatura, atuava como competente jornalista. É mais um dos tantos casos em que o jornalismo contribui com qualidade para a atividade literária.

O livro chega ao Brasil após vitoriosa trajetória em várias partes do mundo. Já foi lançado, por exemplo, em 35 países, com excelente aceitação em todos eles. É, portanto, “tacada certeira” da Editora Novo Conceito, que apostou nesse empreendimento e vem se dando bem. As vendas crescentes atestam esse acerto. A edição brasileira conta com a tradução de Amanda Moura. É um desses romances que a gente não consegue parar de ler enquanto não chegar à última página. Seu ritmo é tão dinâmico, que foi transformado em filme – dirigido por R. J. Cutler, tendo no elenco Chloë Grace Moretz, Mireille Enos, Joshua Leonard, Stacy Keach, Lauren Lee Smith, Liana Liberato e Jamie Blackley, entre outros – que será lançado nos Estados Unidos em agosto e previsto para chegar ao Brasil um mês depois.

“Se eu ficar” narra a história de Mia Hall –  jovem artista, adolescente de 17 anos, amante de música erudita, cujo sonho maior era estudar violoncelo na célebre escola Jilliard, de Nova York – que está em coma na UTI de um hospital, após acidente automobilístico que matou seus pais e seu irmão mais novo Teddy. A garota tem 24 horas decisivas nas quais precisará compreender o que aconteceu e fazer a mais importante escolha de sua vida: ficar neste mundo (e viver) ou morrer. Antes do acidente, também enfrentava um dilema, posto que não tão dramático e decisivo: tinha que escolher entre seguir seus sonhos na escola de música Juilliard ou optar por caminho diferente com o amor de sua vida, seu namorado rebelde, Adam, guitarrista e vocalista da banda Shooting Star, em uma pacata cidade do Estado de Oregon em que vivia com a família.

O enredo transcorre em um único dia. O livro, portanto, não tem capítulos, tem horas. Gayle Forman maneja, com habilidade e muita sensibilidade, presente e passado, alternando o que se passa na mente de Mia enquanto em coma na UTI do hospital com flashes de sua vida antes do acidente. Apesar do ritmo veloz, de tirar o fôlego, da narrativa, habilidade que poucos escritores têm,   a autora traz à baila, sem que nos apercebamos, importantes reflexões sobre vida, morte, escolhas, amor, sonhos etc.etc.etc. Claro que não irei resumir a história e muito menos revelar seu desfecho. Não sou estraga prazeres e não quero acabar com sua surpresa, caro leitor, que certamente planeja adquirir o livro. Se fizer esse “investimento”, asseguro-lhe que não se arrependerá.

Entre os pensamentos que passam pela cabeça de Mia, está este: “Eu não estou certa de que este é um mundo a que pertenço. Não tenho certeza que quero acordar”. Em outro trecho, a adolescente pensa: “Sei que pode ser idiotice de minha parte, mas sempre me perguntei se o papai se sentia frustrado por eu não ter me tornado roqueira. Esta era a minha intenção, também. Até que, na terceira série, me deparei com o violoncelo durante as aulas de música e ele me pareceu mais humano. Parecia que, ao tocá-lo, ele lhe contaria segredos, então não hesitei. Isso já faz dez anos e desde então, nunca parei”.

E Adam, o namorado rebelde, o que pensava de tudo isso? Amava Mia sem restrições ou se tratava de um namoro fortuito, ocasional, passageiro como tantos outros? Sua declaração à amada, que se debatia entre a vida e a morte, responde; “Se você ficar, eu faço o que você quiser. Eu largo a banda, vou com você para Nova York. Mas se você precisar que eu vá embora, eu faço isso também. Eu estava conversando com Liz e ela disse que talvez voltar para sua antiga vida seja doloroso demais, que talvez seja mais fácil você nos apagar. E isso seria uma droga, mas eu faço. Eu posso perder você assim se eu não a perder hoje. Eu deixo-a ir. Se você ficar".

Concordo plenamente com esta observação que li no blog “Livros pra ler e reler”, a propósito deste romance: “Gayle Forman emociona e fala sobre amor, perda, sacrifício e escolha. Principalmente, nos faz refletir sobre os mistérios da vida, da morte e do coma, nos conduzindo a uma reavaliação de nossas vidas e do que é importante para nós, valorizando assim cada segundo de nossa vida, pois nada é para sempre”. E não é mesmo!!! É como Mia Hall conclui à certa altura: “Percebo agora que morrer é fácil. Viver é que é difícil”.

Boa leitura.

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk   

          

Um comentário:

  1. Os momentos decisivos são exatamente isso: decisivos. Entrar nesse mundo comatoso com essa propriedade e fazer um trabalho reconhecido por tantos é um feito memorável. Despertou completamente a minha curiosidade, Pedro.

    ResponderExcluir