quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Onde mora o perigo...



A ciência fez de nós deuses antes mesmo de merecermos ser homens”. Essa afirmação é do filósofo e historiador francês, Jean Rostand, que, como tantos e tantos pensadores do seu tempo (e do nosso) preocupava-se com a aplicação das mais relevantes descobertas científicas exclusivamente para construir um mundo melhor, como seria de se esperar, e tornar a vida das pessoas mais amena ou menos árdua. Vários dos segredos da natureza, desvendados por hábeis pesquisadores, todavia, são terríveis ameaças, inclusive à sobrevivência da espécie, quando usados sem critério e sem juízo. Exemplo? A energia nuclear.

Caso o fantástico potencial energético contido no simples núcleo de um átomo seja usado, única e exclusivamente, para mover máquinas e iluminar cidades, é capaz de resolver, adotadas as devidas cautelas, de uma vez por todas, o problema de energia, cada vez mais necessária, posto que as fontes mais utilizadas atualmente sejam escassas e finitas. Ocorre que seu uso não se restringe a esse aspecto. Estão aí as armas nucleares, com potencial destrutivo absolutamente catastrófico e em quantidades fantasticamente exageradas. Uma só dessas bombas pode destruir países inteiros e lançar a humanidade, literalmente, na idade das trevas. Sabe-se, porém, que os arsenais das potências atômicas tem poder destrutivo tamanho que, se explodidas simultaneamente, podem destruir mais de uma centena de planetas Terra!!! Ora, destruída uma, não haverá outras noventa e nove para serem aniquiladas. E não se trata de fantasia. É a mais inquietante e pavorosa realidade.

Os detentores desses absurdos arsenais asseguram que sua existência tem caráter meramente “dissuasório”. Ou seja, que nenhum país os atacará sabendo que possuem esse absurdamente invencível meio de “defesa”. Defesa? Só mesmo na cabeça desses malucos que detêm poder político, com a complacência e alienação dos que lhes delegaram essa posição. Quem pode garantir que essas bombas nunca serão usadas? Afinal, duas delas, e de potência ínfima comparadas com as de hoje, já foram utilizadas para destruir, em minutos, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki!!! Houve, portanto, um precedente  Ademais, quem é capaz de assegurar que jamais venha a ocorrer alguma explosão acidental? Ou que alguma dessas bombas não caia, por uma dessas desgraças impensáveis, mas não impossíveis, em mãos de algum grupo terrorista, de indivíduos tão fanatizados que sua última preocupação é com a vida alheia e inclusive com a própria? Claro que não há garantia alguma. E sequer citei acidentes na utilização da energia nuclear para fins pacíficos, como ocorreu com as usinas de Three Mile Island, nos EUA, em 1979; Fukushima, no Japão, em 2011 e, principalmente, Chernobyll, na Ucrânia, em 1986. Antes, portanto, a ciência sequer descobrisse esse segredo da natureza.

E o que dizer das armas bacteriológicas? Como classificar a ação de determinados pesquisadores que, em vez de conhecerem os segredos dos vírus e bactérias para eliminá-los e erradicar doenças que nos ameaçam há milênios, fortalecem-nos e os transformam em equipamentos de guerra? Há descobertas e mais descobertas científicas que, se empregadas com juízo e construtivamente, tendem a tornar nossas vidas muito mais longas, seguras e agradáveis. Todavia, se mal utilizadas... podem tornar este planeta estéril, vazio e inabitável. Não sou e nem poderia ser contrário aos avanços científicos. Só entendo que as descobertas têm que vir acompanhadas da devida cautela, ditada pela ética. Infelizmente, nem sempre são.      

A afirmação de Jean Rostand, embora soe, a muitos, como mera retórica, como simples frase de efeito, não é. É a pura expressão da verdade. “A ciência fez de nós deuses antes mesmo de merecermos ser homens”. E não fez? E ele pôde afirmar o que afirmou com pleno conhecimento de causa. Afinal, além de filósofo e de historiador, foi, também, ilustre biólogo> Portanto, foi um cientista; O dramaturgo irlandês, ganhador de um Prêmio Nobel de Literatura, George Bernard Shaw, afirmou: “A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez”. Embora sua afirmação tenha o defeito da generalização, não deixa de conter certo fundo de verdade. Talvez uma determinada descoberta científica, que solucione problema específico, não crie outros dez, como ele afirmou. Em alguns casos, contudo, pode gerar muito mais do que só uma dezena. Como pode, também, não produzir nenhum.

Estas ligeiras considerações, observo, não são manifestações de pessimismo, como pode parecer aos desavisados. São frutos de observação da realidade, como compete a qualquer escritor que acredite num futuro melhor e que, por isso, não seja alienado. Não se pode fazer da ciência uma espécie de “caixa de Pandora” que, se aberta, libere todos os males que existem. Mas, para que isso aconteça, é preciso que o conhecimento ande de mãos dadas com a sabedoria. Que o homem não se sinta o deus, que não é, e que cultive o que deveria caracterizá-lo: “a humanidade”, fundamentada na razão. Até porque, como observou Isaac Asimov – gênio tanto como escritor, quanto por se tratar de um dos mais lúcidos cientistas do século XX: “O aspecto mais triste da vida de hoje é que a ciência ganha em conhecimento mais rapidamente que a sociedade em sabedoria”. É aí que mora o perigo.

Boa leitura.

O Editor.

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