quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Antigamente, mas nem tanto...


* Por Maria Luiza Falcão


Aprendi em casa, no seio familiar, a respeitar os mais velhos.

Este termo, naquele tempo, era geral. Explico: todo universo de pessoas que não fosse mais novo ou não estivesse entre os “coleguinhas”, era mais velho. É claro que para as crianças, fácil era identificar como mais velhos aqueles que “se pareciam” com os pais. Mais velhos ainda os que se assemelhavam de alguma forma aos avós. A expressão “tia/tio” definia o parente consangüíneo ou era dedicada à professora, a tia da escola. E a todos estes “mais velhos”, é claro, tratávamos de “senhor ou senhora”.

Era fácil distinguir as pessoas seguindo estes critérios. E como aos mais velhos cabia a educação e proteção dos mais novos, a vida de criança era bem mais simples.

Em casa (é claro que me refiro aos lares harmoniosos), papai e mamãe cuidavam, davam carinho, amor, mas também davam bronca, colocavam de castigo etc… tudo muito natural. Fora de casa, era possível ir tranquilamente ao comércio da região – padaria, farmácia, mercado – pois a não ser pelo cuidado na hora de atravessar a rua, de resto éramos sempre cuidadosos. Um vizinho no caminho nos conhecia e nós a ele, os comerciantes sabiam de onde vínhamos, as famílias tinham o endereço de cada uma, e não raro se tratavam pelo nome. Falar nome feio diante de um mais velho, nem pensar! Dentro ou fora de casa, havendo um mais velho, o respeito imperava. Fazer algo errado? Fora de cogitação. Um mais velho com certeza iria contar para nossos pais.

Ainda que nem tanta intimidade houvesse, ser criança significava que alguém sempre estaria olhando por nós, e ser adulto – ou mais velho – pressupunha cuidar dos mais novos. Simples assim.

Uma vida vigiada, porém segura. Pessoas se vigiavam amorosamente, se cuidavam, se importavam umas com as outras.

Nenhuma máquina moderna é capaz disso: nem câmeras, alarmes, sistemas de segurança. O que lhes sobra de tecnologia, falta de sentimento.


* Escritora e artista plástica

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