sábado, 27 de dezembro de 2014

A Sinfonia não terminou

* Por Urda Alice Klueger 

Choveu, hoje; era necessário. Neste tempo de fim de Primavera e de quase Natal tudo tinha que estar perfeito, e a chuva deveria lustrar e fazer luzir cada folhinha desta Mãe-Terra do Vale do Itajaí, porque era o dia em que ela deveria abrir o seu ventre para receber para o descanso de para-sempre aquele seu filho dileto chamado Hélio Hahnemann.

Só soube que Hélio partira faz pouco, e mal queria crer. Liguei, então, para Noemi e Roi Kellermann, e eles estavam acabando de chegar da despedida daquele Ser-Beija-Flor que se cansara de bater suas asas coloridas e resolvera que era tempo de ir dormir seu sono mais reparador no ventre da terra deste Vale. Dói saber, dói muito, assim como dói a cada vez que a gente perde as pessoas que ama, e então saí para caminhar um pouco pela tarde, para, mais perto da Natureza, tentar entender por que Hélio se fora, os porquês das partidas, e Hélio tinha sido sempre tão especial, puro talento transformado em cores e pleno daquele sentimento que eu acho que a gente deve chamar de “saudade do que ainda não aconteceu”, e foi ele, exatamente ele, o Grande Retratista a transpor para as telas as mais diversas facetas deste Vale do Itajaí. Uma vez ou outra, ia ele espiar a desembocadura do Vale no mar, e também essas espiadas ele pintou, e se o Vale do Itajaí tem hoje uma maravilhosa iconografia, não há como duvidar a quem a deve: ao Beija-Flor irriquieto, pleno de luminosidade interior, que soube captar todas as nuances das cores, das formas e da poesia, e que hoje ... nos deixou.

Eu penso em Hélio como a gente pensa numa Sinfonia, e era assim que ele era mesmo, pois sinfonias me fazem ver cores e sensações que talvez não visse ou sentisse se elas não existissem, e Hélio era assim, fazia com que a gente quisesse ver o que não deixava claro – havia quadros dele que eu ficava com vontade de espiar pelo lado de trás, para ver como é que era o pátio traseiro daquela casa, ou o outro lado daquele ribeirão, quem sabe a parte interna de um esquecido estábulo do meio de um pasto...

Então saí a andar pela tarde para tentar entender os porquês dolorosos das partidas, e a Natureza de fim de Primavera estava toda absolutamente tão linda assim depois da chuva, que então eu entendi: toda ela se preparara para receber no seu ventre aquele que lhe fora tão fiel ao longo de toda a vida, e não era como se uma Sinfonia tivesse terminado – Hélio Hahnemann estará sempre como uma colorida música bailando de beleza dentro deste meu Vale do Itajaí!

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de mais três dezenas de livros, entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e “No tempo das tangerinas” (12 edições).


Um comentário:

  1. Passou a fazer parte do Vale que ele tanto amava e recriava. Descanse em paz!

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