segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Baby Isis, uma homenagem ao teu sonho


* Por Adaír Dittrich

Esta é a história de um sonho que começou há mais de 30 anos, quarenta até, talvez. Um sonho que se transformou apenas em esmaecida imagem no passar dos dias, no passar dos tempos. Um sonho de uma Academia de Letras aqui plantada. Hoje o sonho tornou-se palpável pela mão de muitos e de muitas.

E nesta celebração, nesta data, eu preciso fisgar, puxar, trazer do fundo de minhas arcas os escritos de alguém que tecia poemas nas auroras mais loucas e nos crepúsculos mais toscos e que ousou inserir suas letras nos mais inusitados locais.

Isis Maria Tack Baukat era a nossa poetisa, Patronesse hoje da cadeira número onze de nossa novel Academia de Letras.

E pinço para esta coluna um texto que deveria ter sido apenas a despedida de uma página que por meses ela escreveu no nosso semanário “Correio do Norte”, a página que se chamava “Estilo Nosso” e que vinha assinada por Ganem et Plus.

E a despedida foi para Baby.

Sempre havia mensagens para Baby. Baby, um personagem a quem os poemas eram endereçados era a tradução de pedidos de amigos para amigos, para amores, para amantes.

Era para ser apenas um adeus de uma página, de um jornal.

Mas foi o seu definitivo Adeus!

Um poema, endereçado a todos os “Babys” e a todas as “Babys”, leitores da coluna dela, estava na edição daquele inesquecível sábado, dois de junho de mil e novecentos e oitenta e quatro.

Naquela manhã de outono o jornal foi para as ruas, para as casas e atingiu em cheio o coração e a alma dos que o leram.

E naquela noite de outono o coração de Isis acelerou muito acima do possível e todas as pressões externas o comprimiram mais intensamente entre as finas e sensíveis paredes de seu ser.

E ele parou.

Várias ressuscitações fizeram-no bater por mais algumas horas para que o nosso pequeno mundo aceitasse a despedida e para que os anjos lá em cima preparassem o dossel que a receberia.

E no outro dia, na tarde que findava, com um céu de chumbo carregado de gotículas, como lágrimas derramadas em sua despedida, no alto da colina, o amigo Orty de Magalhães Machado, hoje Patrono da Academia de Letras do Brasil/ SC – Canoinhas, leu, dela, um poema:

“Eu queria tão pouco!

Um lugar para adormecer a alma,

não o lugar onde derramo o corpo,


Eu só queria

renascer em cada dia

num sorriso de criança!!!”



“Baby,

talvez esta seja uma das últimas mensagens para você.

Sabe, Baby, falávamos numa linguagem doce de gente que gosta de proximidade de gente.. dizíamos, com ternuras grandes, dos dias festivos de cada um, deles e delas, irmãos de tempo e história… mantínhamos o registro semanal de coisas que devem ser contadas porque, enquanto comunidade, precisamos saber de nós…

…fizemos o possível para manter o “clima” inicial que era a proposição de embalar este “berço-beira-rio” como quem nina um universo único.

Não fomos comprados, Baby, não fizemos concessões, não alimentamos preconceitos, não aceitamos política, não permitimos imposições. A ordem-do-dia era a linguagem dos afetos, com parcos momentos de irritação.

Mas estamos de saída e uma porção de canoinhenses, aqui e lá fora, se recusará a “entender”, como também não entendemos.

Estamos de saída, assim, com nenhum motivo grave,… apenas porque a “linguagem por demais elevada para página social de semanário interiorano…”, porque somos “elitistas”,…

Baby, Baby,… e pensar que teríamos tantos, ainda, de quem falar!

Permita-nos esta tristeza, esta saudade antecipada do “Correio” tão bem dirigido por Tokarski-poeta-Fernando de crescimento tão rápido.

Com nossos leitores da City, conversaremos pelai, nos encontros inesperados de todos os dias.

Para os amigos de fora, aos quais remetíamos o jornal e aos que assinam pedimos desculpas. Amigos, desde o oeste de Santa Catarina até Brasília, passando por Joinville, Floripa, Curitiba, São Paulo, Rio, Belo Horizonte… : a alegria durou pouco, “meninos”.

Como você, Baby, estes são os amigos distantes que ansiavam notícias da terrinha na linguagem de “Ganem et plus”, junto aos tantos que aqui mesmo, rente a nós, puderam demonstrar, com carinho, a expectativa pelo “Correio”, aos sábados.

Pena. Pena que a “linha” do jornal de repente seja outra e que estivéssemos todos equivocados.

Pena que condição de cultura das pessoas para as quais escrevemos tenha sido confundida com a condição de “elite social”.

Pena que não se reconheça a capacidade imensa de entendimento da gente desta terra-elite, sim, mas cultural… pelo menos os que nos liam, garantidamente.

Pena que se tripudia sobre a grandeza intelectual dessas pessoas, julgando tripudiar sobre nós, nós que somos apenas os que “cronicam” essa grandeza.

Pena que o nosso sonho de uma Academia de Letras, não só para as letras, mas para todas as artes fique adiada. Mas tão somente adiada. Em algum dia ela chegará.

Pedimos ao cronista que virá o apoio devido aos profissionais de imprensa.

É possível que, um dia, possamos voltar em grande estilo… nosso.

Até lá, Baby-demais-para-um-só-coração, paciência.

Até lá, amigos, como disse Francis Hime, “eu parto, portanto, sem fazer alarde, eu levo a carteira de identidade, uma saideira, muita saudade… e a leve impressão de que já vou tarde”.

De Ganem… a et plus.”


* Médica e escritora

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