domingo, 19 de outubro de 2014

O ruído


* Por Cida Pedrosa

As mãos a tesoura a seda roçando seu braço os fiapos de linha caindo na sua cabeça e ela esparramada no chão aos pés da mãe brincando com retalhos e bonecas de pano sem peito. Os pés cheios de veias o pedal hipnótico a carretilha girando em frenesi o ruído que a embalava para além das cores do tecido e as horas do dia.

As mãos o papel o cheiro de tinta roçando o nariz  os olhos grudados no texto as letras pairando no espaço e ela esparramada no chão aos pés da irmã fazendo a tarefa de ciência  a lápis grafite e sem o livro com as gravuras do corpo. Os dedos cheios de veias o cilindro hipnótico as teclas saltando em frenesi o ruído que a embalava para além das palavras datilografadas e as horas do dia.

As mãos a luz do abajur a almofada de seda roçando no corpo o poema lido e postado ao lado e ela esparramada no chão aos pés do amante de pernas abertas penetrando a si mesma. O pênis cheio de veias o movimento hipnótico o gozo derramado em frenesi sobre o seu rosto e o ruído do vibrador  embalando-a para além dos gemidos e as horas do dia.

* Poetisa e vereadora no Recife


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