sábado, 25 de outubro de 2014

Fogo-preso


* Por Carmo Vasconcelos

Tenho um poema atado na garganta,
Como uma espinha aguda atravessada,
Cingido ao fogo-preso que o não canta,
Hirta a língua, pla verve não largada.

E a mágoa que bebi, por não ser pouca,
Pela afronta, de fel envenenada,
Traz ressaca de gelo à minha boca,
Pela amarga revolta não gritada.

Porém, se ao rubro a mágoa se agiganta,
Deitada ao gelo, breve é desmanchada,
E porque lisa… a pena já não espanta.

E liquefeito o mote, então sustido,
Corre a mágoa na verve deslaçada,
Esvai-se a espinha, e o poema é engolido!


* Poetisa portuguesa

Nenhum comentário:

Postar um comentário