quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um mutirão antineoliberal para salvar o Brasil de nova devastação

* Por Emir Sader.

A forma da campanha eleitoral mudou: Aécio foi substituído pela Marina como candidato da oposição. A simples contraposição entre os governos do PT e do PSDB desenha uma derrota já no primeiro turno para a oposição, a quarta consecutiva.

O mais que suspeito acidente aéreo – caixa preta não gravou, mas a população viu um avião caindo em chamas, indicando que houve a explosão de algum artefato no seu interior – que levou à substituição da candidatura do PSB mudou o quadro eleitoral na sua forma, mas seu conteúdo segue o mesmo, conforme Marina assume teses ainda mais explicitamente neoliberais.

O Brasil mudou, principalmente no plano social e econômico, também no plano político, mas os valores deixados pelo neoliberalismo não foram substituídos por valores alternativos. E nisso, falharam todas as forças antineoliberais.

Falhou o governo, porque não desenvolveu sistematicamente um discurso explicativo sobre o significado das suas políticas de superação do neoliberalismo. Falhou por não avançar nada na democratização dos meios de comunicação, que impedisse que a máquina monopolista da mídia seguisse perpetuando esses valores e desvirtuando o sentido das políticas do governo.

Falharam os partidos de esquerda – os que apoiam o governo e os que o criticam –, assim como os movimentos sociais, porque não fizeram desse tema sua ação central nestes anos em que logramos colocar o neoliberalismo na defensiva pelas políticas sociais do governo. Mas não foi desenvolvido um trabalho de massas no plano ideológico, que ajudasse a consciência social do povo em relação às imensas e progressistas transformações que vive o país.

Esse trabalho não poderá se desenvolver satisfatoriamente na campanha, mas é preciso concentrar em desmascarar as teses do “nem direita, nem esquerda”, “nova política”, para centrar a agenda da campanha no modelo neoliberal e nas propostas e programas antineoliberais.

A campanha será uma disputa de agenda: a Marina tentando centrar na desqualificação do Estado – do mandato do PT, da Petrobras – e na suposta superação da polarização PT-PSDB. A campanha da Dilma tem que se centrar no modelo neoliberal de que a Marina, mais além dos envoltórios, representa de forma ortodoxa.

Um imenso mutirão popular antineoliberal é o que pode levar a mais uma derrota da direita e à continuidade e aprofundamento do projeto iniciado por Lula em 2003.

* Sociólogo e cientista político


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