quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Não temos carisma, temos eficiência!

* Por Fernando Yanmar Narciso

“Ai me dá um desespero
Quando eu penso na eleição
Vou ficar um ano inteiro
Aguentando mala na televisão”
Casseta & Planeta

Agora é pra valer! Chegou o grande momento, a hora da virada, a “festa da democracia”! Dia cinco de outubro vem dobrando a esquina, e se você for como eu, mal pode se segurar de expectativa com o futuro da nação. Em poucos dias teremos um novo/a presidente da República! Isso não é ótimo? (Som de grilos e cigarras)

Ironias à parte, por que a eleição presidencial é vista pela maioria das pessoas não como o momento mais importante do país mas como um martírio, uma Via Sacra, um castigo pior que as sessões de tortura nos porões do DOPS, às quais nossa atual presidenta sobreviveu com louvor? Mesmo eu, um apaixonado por política, não poderia me importar menos com essa campanha nem se me esforçasse.

As opções à disposição do eleitor nas atuais campanhas em rádio, TV e internet nos parecem tão atrativas quanto aquele pedaço mastigado e babado de sei-lá-o-que que seu cachorro trouxe da rua, não acha? De tantos partidos que há no país (atualmente somam quase 35) e com tantos rostos novos aparecendo esporadicamente na cena política, esses três que encabeçam o Ibope são realmente o melhor que eles tinham a nos oferecer?

Não conseguimos ter empatia por nenhum candidato há anos, todos cobertos numa manta de pragmatismo e eficiência que, sem querer ofendê-los, não lhes cai tão bem como pensam. Você olha para aqueles três e imagina se não estaria, na verdade, tendo que escolher entre o leite de magnésia, o óleo de rícino e o Plasil. Por mais que o 2º e o 3º colocados tentem se vender como a novidade, as opções à tangente da atual conjuntura, já os conhecemos de outros carnavais, são tão old-school ou mais do que a presidenta.
E por outro lado, quando pomos os olhos nos candidatos que vêm abaixo destes, aí sim temos certeza de que o mundo da política parou no tempo! O grande “muso” inspirador de alguns deles publicou seu grande manifesto filosófico contra o status quo no século XIX, e sequer acreditava que suas ideias revolucionárias pudessem ser postas em prática no mundo real.

Quanto aos outros, um deles já se candidatou à presidência tantas vezes que tenho quase certeza que o plano dele é chegar ao poder vencendo pelo cansaço. E outro fala há tantos anos que vai baixar o preço do leite, do arroz, do feijão e do pão que ele mostra na propaganda eleitoral as mesmas embalagens que mostrava lá em 2002.

Uma coisa que devemos nos lembrar em tempos de eleição é que a situação não é nem tão boa quanto nas propagandas do Governo e nem tão catastrófica quanto no quadro que a oposição tenta pintar. O país melhorou sim, gente, só não enxerga quem não quer! Claro que ainda há muito a ser feito pela saúde, pela segurança e pela educação, questões eternas na política nacional, mas no geral a coisa nem de longe está tão feia como a grande mídia nos faz pensar.

Precisam de provas? Outro dia eu pagava por uma conta no caixa de uma lanchonete, e do meu lado estava um vendedor de rede... Com um IPHONE no ouvido! Quando e como isso seria possível há 20 anos? Dada vez, ouvi no shopping da cidade duas moças, que nem jeito de abastadas tinham, reclamando com a balconista do sushi bar que o preço do temaki estava um verdadeiro assalto! Noutros tempos esse tipo de discussão pareceria saída de um conto de Dias Gomes!

A única bandeira que a oposição pode levantar, para pelo menos tentar lamber a tigela da batedeira, é o combate à corrupção. Só que, de um jeito ou de outro, não houve gestão mais empenhada em combater desmandos de seus integrantes que o atual. Vocês podem até dizer que é escândalo que não acaba mais, que toda semana aparece uma maracutaia nova, coisa e tal. Mas e em governos anteriores, que os casos sequer vinham a público, e quando já não tinha mais jeito de escondê-los o próprio partido da situação faltava apostar a mãe no pôquer para barrar as investigações?

Dá tanta saudade dos debates da primeira eleição pós- ditadura militar, em 89! Absolutamente informais e humanos, a única preocupação dos candidatos era ironizar, pisar nos calos do adversário sem a menor censura... Se naquele tempo já eram poucos os que podiam realmente revolucionar o país recomeçando tudo do zero, imagina hoje? A diferença era que naquele tempo a população vivia tão desesperada com o quadro geral que qualquer um servia no lugar do presidente. Já hoje, todos os candidatos têm cara e jeitão de “qualquer um”...

* Escritor e designer gráfico. Contatos:
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Conheçam meu livro! http://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer



Um comentário:

  1. Bateu em todo mundo como se fossem e fôssemos uns coitados. Algum dia nosso país não será mais "pobre Brasil". Então diremos que chegamos lá. Sobre o passado, há 20 anos a minha lavadeira vinha trabalhar de "vestidão", pano na cabeça e chinelo de borracha de tiras diferentes. Agora ela tem sofá, tanquinho, TV tela plana e vem de carro. No último Natal ela trocou tudo, e em sua porta o caminhão de lixo teve trabalho para levar os eletro-domésticos desovados. Sendo assim, a oposição tem de trabalhar muito para convencer o eleitorado que tudo piorou e está um caos. Quem discursar melhor leva o prêmio. Esperemos, pois.

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