domingo, 24 de agosto de 2014

Mediania

* Por Fernando Mariz Mazagão

                             I


Medida comum à imensa maioria,
matéria do espírito é a incolor mediania.
Estigmatizada no ventre por teus filhos mais ingratos,
és o motor comum aos fortes e aos fracos

o afã perdido no sono dos sonhos.

Contra tudo o que existe, à exceção das exceções,
para ti, cimento dos fatos, compus minha canção.
Elegia homicida (ou seria suicida? ou matricida?)
cimitarra cega de punhos sem mãos.

É o desdizer de um Deus que por fastio obriga
a escrever a humana tragédia
em tão poucos atos,
em tão poucos dias,
sem dispor de lei que nos remende o laço.
Só tu mediania nos faz afim de cocaína, futebol, sexo e Saxon.

                               II

Nada sentir ou saber
e ter que fazê-lo,
como uma ocupação qualquer
mesmo que simulacro
do sacro
quem dá a mínima?

E quanto a responder?
Quem vai querer se incumbir
de balbucigugitar o mesmo sonho
again
and again
and again and again?
Not Sam.
O negão morreu e o tio expande seus negócios à leste
bem próximo ao jardim celestial,
hoje ocupado por demônios
e pela vaca que precisou alugar seu brejo
por razões de caridade
e p’ra escapar à prostituição.


*Fernando Mariz Masagão é músico, dramaturgo, poeta e colaborador de publicações online sobre arte, com crônicas e críticas musicais. Guitarrista e vocalista de bandas de rock'n'roll, tem formação clássica vigorosa, em cursos de regência sinfônica, apreciação musical e instrumentação.   


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