quinta-feira, 26 de junho de 2014

O mutante esporte das multidões

O futebol mudou, e muito, nos últimos anos. As mudanças ocorreram em praticamente todos os aspectos da modalidade. O material esportivo, para a sua prática, por exemplo, modernizou-se e hoje é cientificamente planejado para que os jogadores mostrem toda sua eficiência e habilidade sem que nada os atrapalhe. Os campos são cada vez melhores, com gramados que são como que tapetes naturais. Isso, claro, nos centros de elite. No Brasil... bem, a coisa não é bem assim. A expectativa, porém, é que as coisas melhorem, até como legado dessa Copa do Mundo tão cara. Tomara que os R$ 8 bilhões investidos em doze arenas sirvam para alguma coisa que não somente para a disputa deste Mundial.

Até as regras do futebol sofreram modificações (sobre as quais já tive oportunidade de tratar em comentário anterior), apesar de poucos se darem conta. A mudança mais profunda, no entanto, refere-se aos praticantes da modalidade (sobre o que comentarei com mais detalhes e vagar oportunamente). Até não faz muito, por exemplo, a estatura dos futebolistas pouco importava. O garoto que fosse um tantinho mais alto do que a média era aconselhado a praticar basquete. Os baixinhos tinham vez e, aliás, até contavam com a preferência dos clubes e treinadores, desde que, claro, fossem de fato habilidosos. Hoje, jogadores com 1,78 metro são considerados “baixos”. Raros conseguem oportunidades até nas chamadas categorias de base. Por isso, poucos, pouquíssimos chegam a se profissionalizar. São, na atualidade, exceções. não a regra. O futebol hoje em dia é muito mais físico, muito mais força do que técnica ou tática. Isso vale tanto para clubes, quanto, e principalmente, para seleções. Basta atentar para as 32 equipes nacionais que disputam a presente Copa. São uma coleção de “gigantes”.

É certo que os jogadores considerados os mais talentosos do mundo, ou seja, Lionel Messi, Neymar Junior e Cristiano Ronaldo, entre outros, não são propriamente de porte avantajado. Como Ronaldinho Gaúcho, ´Romário e Ronaldo não eram. Como Andres Iniesta não é. Muito pelo contrário. Todos os citados podem ser considerados, se não nanicos, pelo menos baixinhos (ou quase) para os padrões atuais. Há quem entenda que por isso é que são o que são. Ou seja, os mais habilidosos entre milhares e milhares de outros jogadores. Creio que extrair essa conclusão é forçar demais a barra. Não vejo razão para a estatura (no caso a baixa) ser fator determinante de habilidade. Todavia, coincidência ou não, não há, no momento, nenhum grandalhão que ameace, sequer de longe, a hegemonia técnica dos tidos e havidos como melhores do mundo.

As mudanças nos equipamentos dos atletas também foram muitas. Aliás, foram radicais. Não faz muito, as chuteiras eram desconfortáveis, pesadas, feias e mais atrapalhavam do que ajudavam no desempenho:  na perfeição de um passe, no domínio de bola e nos passes e nos chutes a gol. Hoje são leves, praticamente “vestem” os pés e permitem máxima eficiência dos atletas no jogo. E são multicoloridas. Chuteiras pretas são, cada vez mais, peças raras. E a bola, então? Era um horror! Era de couro e, quando encharcada, em dias de chuva, parecia feita de chumbo. Que diferença em relação às de hoje, sintéticas e uniformes!  Nenhum jogador pode usar, como desculpa para não jogar bem, eventual inadequação dos equipamentos essenciais de sua profissão.

Os goleiros, não faz muito, não contavam com qualquer proteção manual. Usavam umas joelheiras ridículas, parecidas com as utilizadas nos jogos de hóquei,  que atrapalhavam, e muito, seus movimentos, Era comum ver vários deles, se não a maioria, com mãos deformadas, com dedos tortos em decorrência de inúmeras fraturas.  Hoje, os goleiros contam com luvas que, a exemplo das chuteiras, lhes permitem exercer todo seu potencial defensivo, caso o possuam, sem receio de contusões e nem de que as bolas deslizem por entre suas mãos.

As camisas, por sua vez, são menos pesadas, mais absorventes e justas, como se fossem a própria pele dos atletas. Houve tempos em que os uniformes dos clubes eram “limpos”. Ou seja, contavam, na parte da frente, apenas com seus distintivos e, na posterior, só com os números, e que eram de 1 a 11. Recorde-se que não havia substituições. Propagandas não eram admitidas. Hoje, as camisas estão repletas de logomarcas de patrocinadores que ajudam, e muito, nas despesas das agremiações, mas descaracterizam aquele que é o principal símbolo dos clubes. Há propaganda na frente, nas costas, nas mangas, além de nos calções e meias. E os números são uma pafernália infernal, imitando, nesse aspecto, as numerações do basquete ou do futebol americano. Se bobear, breve haverá publicidade, também, na testa dos jogadores. Mesmo os campos evoluíram em vários aspectos: transformaram-se em estádios, que viraram, recentemente, ou estão virando, arenas, substituindo rústicas arquibancadas primeiro de madeira e depois de cimento, por cadeiras razoavelmente confortáveis para os torcedores. Claro que isso ocorre apenas com as praças esportivas dos clubes de elite, daqui e de outras tantas partes do mundo.

Ainda há inúmeros campos de futebol que são como pastos: mambembes, desconfortáveis e, sobretudo, inseguros. Aliás, estes são a imensa maioria. Basta acompanhar, por exemplo, os campeonatos brasileiros das séries D e C, quando não da B e alguns até da A, entre outros. Há aqueles em que grama é raridade. São cheios de buracos, verdadeiras armadilhas para contundir tanto craques quanto cabeças de bagre, indiferentemente. Sem falar nos morrinhos “artilheiros”, tormentos de todas as defesas, principalmente dos goleiros.

As traves, antigamente, eram meros caibros, de formato quadrado, portanto com quinas, capazes de provocar sérias contusões no infeliz que se chocasse com elas. Lembro-me de um jogo, pelo Campeonato Paulista, (não me recordo envolvendo quais times), em que o travessão quebrou no meio, ante uma bomba de um  dos atacantes. Provavelmente estava apodrecido de tanto tomar chuva e sol. Teve que ser trocado, para que a partida tivesse sequência. Felizmente, não machucou ninguém. Hoje isso já não acontece sequer no mais mambembe dos campos de várzea. Viram quanto assunto o futebol, essa modalidade mutante, suscita, dentro e fora dos gramados? Daí não ser de se estranhar que apaixone tanto, e tanta gente, ao redor do mundo.

Boa leitura.


O Editor

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Um comentário:

  1. O tamanho do uniforme também se modifica conforme a moda. Eram curtos e justos. Cresceram ao limite e agora se reduzem novamente. O que as mulheres preferem. Quanto a altura de Ronaldo Nazário, quando foi apresentado, disseram que media 1,82 cm. Então não pode ser considerado baixo, ainda para os padrões de hoje.

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