quarta-feira, 26 de março de 2014

Puríssima fantasia

A pergunta que não quer calar, que é feita pelo homem desde que se conscientizou que a Terra não era o centro do universo, que existiam outros mundos, provavelmente mais do que os grãos de areia de todas as praias e desertos do nosso Planeta é: “Estamos sós no universo?”. A intuição – mas exclusivamente ela, sem que eu tenha (e ninguém tem) a mais remota comprovação – é sim. Da minha parte não se trata de convicção. Apenas “intuo” que haja essa possibilidade.

Mesmo que ela exista, a questão seguinte, que emergirá de imediato, será: essa hipotética vida seria, mesmo que remotamente, sequer parecida com o que conhecemos? Seria inteligente? Em caso positivo, constituiria uma civilização, mesmo que em estágio primitivo? Prosseguindo nessa corrente de suposições, teria tecnologia mais avançada do que a nossa a ponto de poder se aventurar a explorar outros mundos?

Sei que esse é um assunto sem nenhum sentido prático. Não vai resolver nenhum dos múltiplos problemas do nosso cotidiano ou que afetam a humanidade e que, tudo indica, ameaça nossa sobrevivência, sem que se faça nada para a nossa proteção não mais em longo prazo, mas no médio, se não no curto, se não mais ainda, no curtíssimo. Sou um tanto cético a esse propósito e não raro sou alvo de críticas dos que acreditam em Ovnis, ETs e quejandos, como se tivessem “provas” do que apregoam com tamanha ênfase que eu não disponho.

Como afirmei acima, acredito que, na vastidão do universo, haja, de fato, vida. Não tenho, todavia, nem mesmo remota intuição (e muito menos convicção) de que, caso exista, seja sequer minimamente inteligente. E supondo que tenha inteligência, que esta seja superior à nossa. E continuando nessa linha de suposição, que tenha tecnologia para empreender viagens espaciais. Por fim, no suprassumo da suposição, caso todas as respostas, a cada uma dessas questões, seja afirmativa, que esses hipotéticos (na verdade, fantasiosos) extraterrestres venham, algum dia, parar neste planetazinho azul de um sistema planetário de uma estrela de quinta grandeza, situada na “periferia” de uma galáxia que denominamos de Via Láctea.

Qual a razão do meu ceticismo? Todas possíveis. A principal refere-se às distâncias absurdamente imensas que separam nosso mundinho dos demais. Para se ter uma ideia, calcula-se que a estrela mais próxima do nosso sistema solar – que justamente por causa dessa proximidade foi batizada de Proxima Centauri – esteja longe de nós a 4,22 anos luz. Isso quer dizer que, para chegarmos até ela, viajando à velocidade da luz, que é de 300 mil quilômetros por segundo, levaríamos 4,22 anos para alcançá-la. Aos desavisados, parece factível. Claro que não é. Se compararmos essa distância com a velocidade máxima já alcançada por uma nave terrestre tripulada, o tempo necessário para chegar a Próxima Centauri seria de, aproximadamente, o número de anos que o ser humano existe. E estou me referindo, exatamente, à estrela mais perto de nós.

Para que essa noção de distância fique mais clara, transformemos os 4,22 anos luz em quilômetros. Teremos a fórmula 4 x 10 elevado à décima terceira potência. Ou seja 40.000.000.000.000 quilômetros. E estou me referindo, reitero, à estrela mais próxima do nosso Sistema Solar. Façam a comparação com a Lua que, em relação a essa estrela, fica logo ali. Nosso satélite natural fica a 384.400 quilômetros da Terra. Notaram a diferença? Ademais, a probabilidade de que Proxima Centauri, que é uma anã vermelha, tenha planetas ao redor é zero. Pode-se afirmar, com quase 100% de segurança, que não tem nenhum. E muito menos algum “habitável” pelo ser humano, com temperatura adequada para que haja água em estado líquido, além de atmosfera com a exata mistura de gases que a nossa Terra tem.

Se para se chegar à estrela mais próxima de nós, na velocidade máxima suportável pelo ser humano, seria necessária uma viagem com duração de milênios, imaginem chegar às mais distantes! Nem o homem poderá jamais atingi-las e nem hipotéticos seres inteligentes, com inteligência e tecnologia absurdamente desenvolvidas, poderão chegar até nós. Fantasiar a propósito, todos nós podemos (e até devemos, como saudável exercício de criatividade). Mas é absurdamente ridículo levar essas fantasias a sério. Portanto, que me perdoem os crédulos, muitos dos quais já deixaram de ser meus amigos por causa do meu ceticismo a respeito. Deixem dessa bobagem de naves interestelares que vocês dizem, convictos, que nos visitaram no passado e que nos visitam com freqüência, esqueça a tolice de extraterrestres e de abduções e contatos de primeiro, segundo e terceiro graus e se concentrem, exclusivamente, na tarefa, nada fácil, porém imediata, de tentar salvar nosso mundinho que está em perigo. Tudo isso que vocês classificam de “fatos” não passa de puríssima fantasia, prato cheio para escritores de ficção científica. É questão da mais cristalina e elementar das lógicas, ora bolas.

Boa leitura.


O Editor

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Um comentário:

  1. As distâncias monumentais tornam ilógicas quaisquer possibilidades. Não sou eu que lhe repito como um eco, tolamente, mas, escrevo relembrando entrevistas do astrônomo Carl Sagan, que também era um incrédulo em relação a possibilidade de vida inteligente fora da Terra.

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