terça-feira, 25 de março de 2014

O gigolô e a poesia

* Por Alberto Cohen

As ideias vagam pelo mundo esperando que as palavras venham desencantá-las. Às vezes, são dóceis. Ariscas e arredias, quase sempre.

Pois bem. Aqui estou escrevendo mal traçadas linhas que, para surpresa minha, algumas pessoas gostam. Eu não! Se pudesse estava nas festas, nas boates, nos cinemas, ao invés de ficar olhando horas a cara quadrada do computador.

Deus sabe o que faz. Destinou uns pobres coitados a coletores de imagens que os outros só enxergam quando já estão escritas. E não existem alternativas: quem nasce com o fado, é poeta ou poeta frustrado. Não adianta correr. Os poemas voam e aguardam lá na frente, nas esquinas e encruzilhadas, rindo ou chorando, a passagem do fujão para subjugá-lo.

Comigo foi assim. Estive escondido em diversas profissões, trocando de automóveis, disfarçado com negras togas, até procurar, como último recurso, refúgio nas delegacias de polícia. Tudo inútil. A poesia seguiu meus rastros, encontrou-me e... “passa já pra casa!”.

Até dormindo, ela me chama com promessas de carinhos, tão logo eu escreva “umas bobagenzinhas”. É bom que se diga que essas “bobagenzinhas” vão pela noite afora e, quando volto para o quarto, a mulher de codinome poesia já foi embora e só me resta tentar dormir novamente.

Que fazer? Se me incomoda, de outra forma sinto sua falta nas ausências. E vamos vivendo às expensas de rimas e metáforas recolhidas numa transa e outra com as letras, as palavras e o papel.

* Poeta e escritor paraense


Nenhum comentário:

Postar um comentário