quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Enfim, fora da caixa

* Por Marcelo Sguassábia

Pessoal da Criação,

Primeiramente, em nome da Diretoria, nossos parabéns a todos os envolvidos pela conquista da nova conta.

Estamos livres para propostas inusitadas, totalmente "fora da caixa", desde que estejamos atentos a uns poucos porém determinantes "polices", que nos chegaram hoje via email.
- Não podemos criar frases iniciadas com "NÃO", ainda que esta mesma já desobedeça à regra.
- Um dos chefes de engenharia de produto tem avô mulato, e consta que a agência anterior apresentou um anúncio com fundo escuro, considerada por ele uma peça subliminarmente criada com o intuito de depreciar a raça negra, de maneira geral, e a sua própria família em particular.
- Nada na cor azul deve aparecer, nem em mídia impressa, nem nas peças de mídia eletrônica, pois azul é a cor predominante do principal concorrente. Essa regra vale para todo e qualquer elemento - do céu nas externas dos filmes aos mínimos objetos de cenografia.
- Nada na cor verde deve aparecer, nem em mídia impressa, nem nas peças de mídia eletrônica, pois verde é a cor predominante do segundo maior concorrente.
- Nada na cor vermelha deve aparecer, nem em mídia impressa, nem nas peças de mídia eletrônica, pois vermelha é a cor predominante do terceiro maior concorrente.
- Layouts no estilo clean, contudo, também precisam ser evitados. O gerente comercial da linha de termocondutores bifásicos considera espaço em branco um desperdício de dinheiro, e que cada centímetro de anúncio deve ser aproveitado com conteúdo sobre o produto, os pontos de assistência técnica ou os valores e a missão da empresa - necessariamente nessa ordem de prioridade.
- Fontes com serifa, nem pensar. Sem serifa, pior ainda. Não existe uma tipologia a ser seguida, portanto podemos ficar à vontade para sugerir a que acharmos melhor para cada circunstância. Desde que respeitando o supra citado - nem serifas, nem falta delas nas letras.
- A cada 20 palavras de texto, no mínimo 5 serão citações do nome do cliente e/ou de suas marcas.
- Os produtos cuja comunicação estarão agora sob nossa responsabilidade em nada se assemelham a chocolates, cervejas, brinquedos, sandálias e outros comprados por impulso. Seus consumidores são racionais e avaliam unicamente custo-benefício. Assim, toda e qualquer comunicação deve obedecer o seguinte modelo de apresentação: nome do produto/função/tabela de aplicações/benefícios/endereço/telefone/site.
- As observações acima integram o primeiro dos cinco anexos recebidos. As obrigatoriedades dos outros quatro serão enviados em seguida.

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).


Um comentário:

  1. Como comentei no Facebook, depois de todas essas objeções e restrições, gostaria muito de ver como ficou a peça publicitária e que cor foi escolhida. Mas já valeu um ótimo texto.

    ResponderExcluir