domingo, 26 de janeiro de 2014

Soneto

* Por Renata Pallottini

O acervo que suspira pela sombra
e o homem que trabalha e espera a paga
sonham com o leito; duro e cruel, meu sonho
és tu: sonhar a noite e após o dia;

pois se me deito e a fronte se me ensombra
repouso não me dá, nem forma vaga
de vão sonhar, o leito onde me ponho;
meu pobre corpo esquálido vigia.

Luz e luz, noite e noite, areia e tempo
deu-me Deus; essa dádiva persiste
mais além do que é sonho ou pesadelo.

E deu-me a boca com que me lamento,
a carne com que sangro e sinto triste,
o sol que choro e a força de fazê-lo.


* Poetisa, dramaturga e tradutora

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