quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Os muitos Brasis

O Brasil é um país maravilhoso, que tenho orgulho de que seja minha terra natal. Mas por mais distraído ou alienado que eu seja, ou esteja, não tenho como ignorar seus erros, vícios e contradições. Enfim, suas infinitas mazelas, entre as quais a mais nefasta é a corrupção. E são tantas!!! Em certos momentos, e aspectos, O Brasil é uma espécie de paraíso terrestre. Mas em outros, e na maior parte do tempo, mais parece sucursal do inferno do que um lugar decente e aprazível para se viver. Fico imaginando como os milhares de turistas que nos visitarão a partir de junho, no período de disputa da Copa do Mundo, irão nos encarar. Qual a impressão que terão de nós? Reforçarão os tantos estereótipos a nosso respeito que prevalecem no Exterior? Vão apreciar a experiência de nos conhecer em nossa casa? Vão detestar? Como saber?

Outra coisa que imagino é qual a avaliação que os brasileiros do futuro farão do Brasil de hoje, com base nos registros de nossa imprensa e dos historiadores das mais variadas tendências e níveis. Que País haverão de herdar? Será uma sociedade  justa, aberta, solidária e tolerante ou cínica, hipócrita, violenta, preconceituosa e cada vez mais individualista? Pensando nessa geração de fins do século XXI e início do XXII, atrevo-me a fazer algumas avaliações, sumamente superficiais, sob minha ótica pessoal, que, espero, lhes chegue às mãos e sirva como referencial.

Classifico o Brasil – e a maioria das pessoas que conheço faz o mesmo – conforme o ânimo de momento. Em alguns dias, entendo que se trate do “país dos contrastes”. Embora tenha evoluído muito, do ponto de vista social, de uns dez anos para cá, ainda convivem, neste território de dimensões continentais, dois Brasis distintos: um, territorialmente pequeno, com o nível de desenvolvimento de uma Bélgica e outro, extensíssimo, com o tipo de vida igual ao da imensa maioria dos mais de 1,1 bilhão de habitantes da Índia. Bem que lhe cabe, portanto, o “apelido” de Belíndia.

Há ocasiões, porém, notadamente quando pela manhã me informo sobre o noticiário do dia – por vários dos seus jornais, noticiosos de rádio e televisão e sites da internet – que concluo se tratar do “país das versões”. Caso a fonte informativa seja vinculada ao governo, chego a desconfiar que viva mesmo no paraíso, que todos com os quais cruzo nas ruas ou convivo sejam seres angelicais e que sejamos sumamente privilegiados por estarmos aqui. Contudo, se a origem das notícias é de integrantes ou simpatizantes da oposição... Bem, neste caso chego a sentir as labaredas do inferno queimando-me as carnes. Ora, ora, ora. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Estimativas são informadas a todo o momento como dados estatísticos, pelas duas correntes antagônicas, palpites são considerados avaliações técnicas e as coisas seguem por aí afora. Provavelmente, nem o governo nem instituições públicas e privadas têm diagnósticos corretos, precisos, exatos, ou que pelo menos se aproximem um pouco da realidade, da nossa situação. Quem, como eu, se debruça sobre os problemas brasileiros, com o objetivo de escrever um livro, ou um artigo, ou um ensaio a propósito, entende o que quero dizer. Há uma falta absoluta de material confiável. Abundam palpites.

As estatísticas disponíveis, além de contarem com grotescos erros técnicos, na maioria dos casos são antigas, embora apresentadas como atualizadas. Em geral, os problemas são exagerados e para pior pela maioria dos meus colegas jornalistas. Entendem, os que recorrem a essa prática, que apenas agindo assim conseguirão sensibilizar a sociedade para as principais aberrações que existem no País. Como se fosse preciso exagerar! Incorre-se no erro de se achar que a quantidade de indivíduos atingidos pelas distorções sociais que nos afligem é mais importante do que a existência dos males, não importa quantos sejam os afetados. Pessoas, portanto, são reduzidas a simples cifras. E quanto maiores forem, melhor será, raciocinam os que não se preocupam com a verdade, mas se contentam com a "metade" dela.

Há, ainda, outros tantos Brasis, dependendo de quem observa nossa realidade, como o faz e com qual objetivo. Será que os turistas que irão nos visitar no período da Copa irão identificá-los? Tenho minhas dúvidas. O provável é que se apeguem aos estereótipos que criaram para nós e não os abandonem jamais. Por exemplo, o Brasil, país em que o jogo é oficialmente proibido, lembra, em certos momentos, gigantesco cassino. Há jogatina, ostensiva ou disfarçada, por toda a parte. Joga-se por todas as formas e meios. Desde as tradicionais apostas em corridas de cavalo, aos clandestinos carteados, este vício já se incorporou aos hábitos do brasileiro. Quem nunca fez uma “fézinha”, digamos, na famosa loteca ou em outra modalidade qualquer de sorteio? Raros, não é mesmo? E rifas? Há uma infinidade delas promovidas todos os dias e em todos os lugares.

O Estado banca boa parte dos jogos, como por exemplo as loterias federal e estaduais, a esportiva, os vários tipos de raspadinhas, a megassena e vai por aí afora, sem esquecer o bicho, que mesmo sendo contravenção penal, resiste há mais de um século e dá margem a subornos e outros tipos mais graves de corrupção. Como fiscalizar o que é permitido e coibir o proibido? Como verificar se cada promotor desses jogos realmente está dentro do espírito que norteou sua criação? E muitos certamente não estão. Da mesma forma que neste país existem “contas fantasmas” em bancos, “eleitores fantasmas” em muitos feudos de caciques políticos, “cheques fantasmas” e outras tantas fantasmagorias por aí, há clubes também com essa característica. Ou seja, existem apenas no papel. Onde há ingênuos, evidentemente existem os espertalhões.

Muitos ainda não se conscientizaram que raros, raríssimos conseguem o que quer que seja na vida sem trabalho, sem esforço, sem sacrifício, sem contínuo aperfeiçoamento e rígida autodisciplina. Em geral, acabam por se machucar. Quem não sonha com a ação do acaso, vulgarmente chamado de “sorte”, que mude radicalmente sua situação financeira e lhe permita comprar aquela casa há tanto desejada, aquele carro tão cobiçado ou que assegure um futuro tranqüilo para os filhos? Raros, raríssimos, no entanto, têm uma, uma única chance objetiva de êxito. Há jogos em que, mesmo pressupondo absoluta lisura e total transparência dos  promotores, as probabilidades de se ganhar chegam a ser de uma em um quatrilhão! Ou seja, raiam ao impossível! A menos, evidentemente, que se seja um João Alves, o famoso “anão” do Orçamento, recordista em prêmios da loteria. Mas esta é uma outra história...

Antes que me questionem, não esqueci o tema da origem das celebrações de aniversário que vinha tratando em dias anteriores. Só estou dando um tempo, para poder “digerir” o volume de informações que colhi a propósito, pois não quero escrever besteira. Se o fizer... no dia seguinte, minha caixa postal ficará entupida de e-mails, chamando-me às falas, quando não xingando-me de “burro”. E não pensem que me irrito com essa fiscalização. Só perco as estribeiras quando as críticas são feitas em linguagem chula, desrespeitosa, que reflita a má educação de quem age assim. Estes não considero meus leitores. E eles podem ter a certeza de que jamais serão bem vindos nos espaços em que atuo.

Boa leitura.


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