quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Eu amo meus médicos

* Por Mara Narciso

Não chego a sonhar com eles ou desejar vê-los antes do dia combinado, mas, dentro do meu estilo fiel, fico anos com o mesmo médico. Não havendo empatia, não volto, mas, dando certo, vão ter que me engolir até que a morte nos separe. Assim eu sou. A começar pela minha mãe, Dra. Milena Narciso, que foi minha ginecologista desde que se formou. Como saí de dentro dela, era natural ser vista por ela. Quando inventou de morrer, desci as escadas e fui me tratar com a sua colega do plantão da quarta-feira na maternidade da Santa Casa, Dra Fátima Lacerda, que foi minha colega na faculdade de medicina. E já são 11 anos de bom convívio. A cada ano cumpro o ritual da prevenção ou apareço quando necessário.

Na psiquiatria, a Dra Consuelo Guedes Meira toma conta dos meus sentimentos, psicanalizando-me há 12 anos. Parece ter acabado de tomar banho, fazer escova e estrear roupa nova. Mantem essa imagem por todos esses anos. Sua aparência ágil e esvoaçante anima o cliente. Falo meia hora a cada 15 dias. Ela diz muito em poucas palavras. Ao final da sessão, direciona o pensamento e marca nova conversa. Já o otorrinolaringologista é o Dr. Marcos Borém. Meu filho pediu e ele me atendeu após o expediente. Simpático e atencioso, cuida da labirintite há 30 anos.

Dra Rita Leite me admira e eu a admiro também. Trata de mim há 12 anos, desde que tive um infarto. Foi a ela que escolhi, depois de vê-la trabalhando na Santa Casa, na cardiologia e no CTI durante dez anos. Dedicada e atualizada, nunca se cansa. Não atende pelo meu convênio e não cobra de mim. O ruim é a sua agenda cheia e a dificuldade em transpor a barreira imposta pelas secretárias que atendem até seu celular. Pergunta ingênua de acompanhantes, especialmente aqueles que respondem questões feitas ao paciente que pode responder, é cortada. Ficam aborrecidos, por que a cardiologista é enérgica e não dá moleza. Foi quem me mandou fazer psicanálise. Grande profissional.

Meu mastologista é Dr. Paulo de Tarso Salermo Del Menezzi, ao qual visito a cada seis meses, há oito anos. Bonito e sorridente, usa voz macia para acalmar as mulheres. Além do diagnóstico, que pode derrubar, algumas precisam enfrentar a mutilação, a retirada da mama, que, felizmente é seguida pela reconstituição, há algum tempo. Fazer mamografia não é nada, momento em que, figurativamente, pode-se dizer que é preciso passar a mama por debaixo da porta. O difícil é aguardar o veredicto. Também este colega não me cobra. E que meus resultados não me assustem.

Também é preciso ir ao proctologista. A minha é a Dra Samyra Lacerda David, cirurgiã geral, linda e de uma meiguice que amolece qualquer coração. Foi de uma delicadeza tão grande comigo, que passou em minha casa e me levou ao Hospital Aroldo Tourinho para me fazer um exame. E também me trouxe de volta. Quem não se impressiona com gente assim? Já são cinco anos de controle.

A dermatologista é a Dra. Andrea Laughton. A dificuldade começa na hora de marcar. Agenda lotada, é preciso telefonar muito tempo antes. Não cobra de mim, e tem uma capacidade profissional acima da média. É dom, pois não acredito que seja coisa que se possa desenvolver. Trabalha com parcimônia e grande responsabilidade em intermináveis jornadas.

Para enxergar melhor visito o Hospital de Olhos do Norte de Minas. Lá sou atendida pelo Dr. Werthman Vilela. Conhecemo-nos quando ele chegou a Montes Claros especializado em oftalmologia e retina diabética. Eu o levei a fazer palestras na Associação de Diabéticos do Norte de Minas. O homem explodiu em capacidade de atuar e agradar, e brilha dentro de um grande hospital de olhos. Lá é uma linha de montagem, com técnicos, médicos e pacientes de crachá. A consulta seguida de exames é tão completa que se fica horas por lá, passando pelos diversos aparelhos. Simpático, o Dr. Vilela trabalha sorrindo, enquanto os pacientes escolhem suas lentes.

Na patologia, Dr. José Quaresma já me deu notícia ruim, pois estava na lâmina. Costuma adiantar-me resultados de exames, e em inúmeras vezes me pôde tranquilizar. A palavra câncer tem sua tonelagem, e espero não ter de ouvi-la. Basta a vez em que o Dr. Quaresma precisou dizer-me sobre minha mãe: glioblastoma multiforme. Esse mal, no cérebro dela, a levou em 32 dias.

O radiologista Dr. Augusto Gonçalves não é médico, é santo. Religioso, tem o nome de Deus na boca, junto com a sua enorme capacidade de entender o medo e a dor do outro. Demonstra interesse pelo problema do cliente, vendo com suas máquinas de raios X, ultrassom, tomografia e ressonância magnética, além do que os outros veem. Parece ter sexto-sentido ou até mesmo superpoderes. Por palpite, vai além do que foi pedido e descobre coisas. E que continue a me dar boas novas.

Sou cuidadosa e por isso sigo as orientações, não ordens, dos médicos com responsabilidade. E que eu possa estar bem para continuar fazendo pelos meus pacientes aquilo que meus médicos fazem por mim. Obrigada, doutores!

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   



6 comentários:

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    1. Eu amplio o privilégio tratando os meus pacientes como sou tratada. Sou apenas uma gota no oceano, mas faço a minha parte. Eu me interesso pelo problema do meu cliente. Obrigada pelo comentário.

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  2. Quem dera se todos fossem assim...Marcar consulta médica pelos planos de saúde de Recife é um tormento!!!

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  3. Que texto bacana! Uma médica agradecendo seus médicos. Que você mantenha-se sempre próxima e amiga desse time de primeira. Parabéns pelo texto, Mara. E um ótimo Natal para você.

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    1. Obrigada Marcelo e José Calvino pela participação. Fala-se tão mal dos médicos, mas é um alento quando temos dores e o médico chega. E é bom também quando podemos reduzir o medo e a dor do outro. E alguma vezes salvar-lhes vida.

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