sábado, 30 de novembro de 2013

Viver para contar

* Por Rodrigo Capella

Encontrar os amigos de escola e colocar a conversa em dia é sempre bom e ainda desperta sentimentos únicos. Percebi isso, nessa semana, quando uma amiga, após uma incansável busca pela Internet, conseguiu reunir os amigos de colégio e marcou um encontro num barzinho.

Dez pessoas sentadas frente a frente com o propósito de olhar fotos antigas, tecer comentários e resgatar histórias engraçadas da vida. Quando escondiam o apagador da professora, era uma gritaria só, todos se divertiam. Quando corriam pelos corredores, era uma tremenda curtição. É, a vida nos proporciona momentos inesquecíveis, cabe a nós valorizá-los.

Essa história toda me fez lembrar do livro “Viver para contar”, autobiografia do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, que se inicia com um recado ao leitor: “a vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”. É, e é verdade. Logo nas primeiras páginas do livro, a mãe do autor pede para que ele a acompanhe até uma casa antiga, que seria vendida. Nesse momento, a cabeça do Prêmio Nobel se assemelha a uma montanha russa, intercalando momentos reais e flash back, técnica consagrada no filme “Cidadão Kane”.

O autor se lembra dos amigos de infância, dos professores, de quando iniciou no jornalismo ou ainda quando descobriu o que é sexo. “Viver para contar”, assim como “Cem anos de solidão”, outro clássico de Márquez, requer atenção. Lápis e bloco de anotação são necessários para guardar nomes, cenas e acontecimentos importantes.

Mas, essa era a intenção de Gabriel Garcia Márquez. A vida, para ser vivida com alegria, precisa ser compreendida em detalhes. Somente assim é que aproveitamos os momentos como se fossem únicos e planejamos cada segundo, colocando a criatividade em prática.

Criatividade essa que nunca faltou ao escritor colombiano. Em “Viver para contar”, ele nos mostra como alguns fatos da vida coincidem com a literatura. Seu avô, por exemplo, fabricava peixinho de ouro e no livro há um personagem que faz o mesmo tipo de trabalho. É, vida e literatura se misturam, vida e literatura são essenciais e oferecem o combustível necessário para continuarmos vivendo: as recordações.

(*) Escritor e poeta. Autor do livro “Poesia não vende”, que tem lançamento nacional no dia 03 de abril e traz depoimentos de Ivan Lins, Bárbara Paz e Carlos Reichenbach, entre outros. Informações: www.rodrigocapella.com.br


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