quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Meus pais e eu (Parte I)

* Por Fernando Yanmar Narciso

 Cresci numa família onde a política é costumeiramente “O” tema de pauta. Alguns tios meus participam ativamente da cena política da cidade; um deles já foi vice-prefeito duas vezes, outro foi um dos responsáveis por fundar o PT daqui, já tendo se candidatado a prefeito duas vezes. Logo, vocês podem imaginar o quanto absorvi desse ambiente. Meus pais sempre exerceram uma grande influência em minha ideologia política. Mãe foi uma das primeiras montesclarenses a se filiar ao PT, e costumava trazer com orgulho uma estrelinha do partido na lapela. Quando tinha cinco anos e Lula veio fazer um comício na cidade, creio que ele até me segurou no colo.

Ah, as inesquecíveis eleições de 1989... Depois de vinte anos de governo militar e dos cinco anos que foram o desastre de Sarney como nosso presidente, o povo urgia por mudanças radicais. Lula, Collor, Brizola, Enéas, Silvio Santos e mais dezessete Zé Graças participaram da primeira eleição a literalmente dividir o país. Cada pessoa tinha sua escolha na ponta da língua e as campanhas foram, acima de tudo, premiadas peças publicitárias. Quem não se lembra do elenco da TV Globo e dos astros da MPB entoando o histórico hino “Lula-lá”, ou das próprias chamadas do PT, com o nome de Rede Povo?

Mas o que realmente foi imortalizado nos anais da cultura popular foi o trabalho de açougueiro que os editores do Jornal Nacional fizeram com o último debate do 2º turno, chutando Lula nos bagos e endeusando Collor. Depois daquela marmelada, virou um dito popular no exterior que, no Brasil, quem elegia o presidente era uma emissora de TV. Depois da queda violenta do cavalo na era Collor, tanto a Globo como o povo brasileiro varreram o playboy pra debaixo do tapete e receberam FHC de braços abertos em 1994, devido à sua maior “criação”, o Plano Real, que livrou temporariamente o país da inflação.

E minha família materna, quase toda petista fervorosa, assistia a tudo de camarote, sem poder fazer muito a respeito. Lula se candidatou à presidente duas vezes na década e perdeu, e mesmo assim tínhamos uma fé cega que a dita esquerda no poder seria a solução mágica para os problemas do país, e insistíamos em seguir em frente. Então, veio o inesquecível ano de 2002... Não teve pra ninguém: O país não aguentava mais os almofadinhas tucanos no poder e estava pronto para receber Lula em Brasília. Continuávamos um tanto ingênuos, mas estávamos mais organizados e tínhamos maior apoio da população. As pessoas nem cuspiam mais nos militantes nas passeatas!

Esse foi um dos melhores anos de minha vida. Como se não bastasse nossa campanha do pentacampeonato no Japão, resolvi abraçar a estrela vermelha de corpo e alma naquela campanha. Onde houvesse passeata ou carreata, lá estávamos eu e minha mãe, sacudindo a bandeira vermelha e usando a foto de Lula na camisa. É o mais próximo de uma glória de guerra que podíamos ter! Em casa, mãe era a grande militante. Pai, apesar de na época apoiar o PT, é oriundo de uma família basicamente de direita e preferia não entrar na trincheira, apesar de já ter brigado com alguns em defesa de Lula e outros candidatos.

Depois de uma disputa acirradíssima, que levou cada envolvido à exaustão, enfim Coroné Luis Inácio caminhou pela rampa do Congresso sem trazer cartazes de FORA FHC e MARX É MEU SENHOR E NADA ME FALTARÁ. Um trabalhador comum, sem escolaridade ou pistolão, era agora nosso presidente. Celebramos e pagodeamos como, parafraseando o próprio, nunca na história desse país...

*Designer e escritor. Sites:


Um comentário:

  1. Certo, com algumas ressalvas. Mas temos de considerar que você tinha apenas 5 anos naquela inesquecível campanha para presidente. A sua avó sempre foi a mais entusiástica petista de todos. Pedro Narciso foi deputado estadual, vice prefeito uma vez e secretário municipal e estadual algumas vezes pelo PMDB. Petronilho Narciso foi candidato a prefeito uma vez e a deputado uma vez pelo PT. O nosso entusiasmo e esperança estão bem documentados por você. Vejamos até quando a nossa ingenuidade prevalecerá.

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