quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Morcegos no campanário

 
* Por Fernando Yanmar Narciso

Não importam quais sejam os planos de um cineasta, ele precisa se lembrar constantemente de tentar atrair o maior número possível de olhos para o seu trabalho, para evitar o bairrismo. Quanto mais exclusivo for seu produto, mais desprezado ele será por quem fica de fora. Tal desafio tende a aumentar a níveis absurdos quando seu objetivo é adaptar uma mídia escrita para as telas de cinema. Pois, por mais que seu filme seja amado por todos, às vezes a ponto de tornar-se um fenômeno cultural ainda maior que a mídia adaptada, haverá sempre “aquele” grupinho para lançar impropérios do tipo “você estuprou a coisa mais importante da minha vida!” ou “se eu te encontrar na rua, arranco suas tripas com os dentes, seu desgraçado!”.

Desde a noite de 22 de agosto, não se fala de outra coisa no circuito nerd que não seja o Batman. O frenesi foi absoluto no mês passado quando Zack Snyder, um velho conhecido dos fãs de quadrinhos por suas conversões quase literais de graphic novels para a telona, entre elas300, Watchmen e o mais recente filme do Superman, anunciou numa convenção que, em sua continuação, de 2015, o Homem de Aço vai enfrentar ninguém menos que o Homem- Morcego. Um sonho enfim realizado! Aos poucos, foram surgindo novidades interessantes a respeito do futuro blockbuster. A maior delas é que eles estavam à procura de um ator mais velho para o papel, de forma que Batman se mostrasse como um combatente do crime mais experiente que o ainda ingênuo Superman, agora interpretado pelo estreante Henry Cavill.

Foram muitas as especulações de quem eles escolheriam para o papel. Em algumas entrevistas antigas, Snyder brincava até com a possibilidade de escalar o veteraníssimo Clint Eastwood para uma eventual adaptação de The Dark Knight Returns, a mais aclamada história do Batman de todos os tempos, onde Bruce Wayne manda a aposentadoria à PQP e retorna ao capuz mais psicótico do que nunca. Então, veio a fatídica noite de 22 de agosto, e com ela, a arma química do ano. Zack Snyder anunciou que o novo felizardo a dar umas voltinhas de Batmóvel diante da tela azul será, surpreendentemente... BEN AFFLECK!

Os fãs do personagem estão, na falta de uma palavra melhor, putos com essa escolha. Sim, porque quando eles pensam numa montanha de músculos sociopata, que gosta de espancar bandidos vestido da forma mais indiscreta imaginável, é claro que pensam em Ben Affleck... O ódio à Warner, produtora dos filmes da DC Comics, é tamanho nesse momento que, não satisfeitos em apenas fazer petições online para Zack Snyder mudar de opinião, um nerd- que, suponho, seja um advogado sem nada pra fazer- está tentando encaminhar à Casa Branca um pedido para que Barack Obama proíba Ben Affleck de se relacionar com qualquer filme envolvendo super-heróis pelos próximos 200 anos!

Mas por que tamanho ódio por um ator que sequer começou a ser filmado ainda usando o capuz preto? Pra variar, tudo não passa de descriminação infantil e tola dos fanboys. O argumento mais usado contra a escalação é que Ben já interpretou um super-herói antes, no filme Demolidor, de 2003. Filme este que ocorre de ser um dos mais detestados do gênero, e todos jogam a culpa do fracasso na atuação (ou falta dela) de Affleck no papel de um advogado cego que, de algum jeito, consegue bancar o ninja pelas madrugadas e perseguir os bandidos injustamente absolvidos.

Mas, só porque Affleck fez um filme terrível de super-herói, não quer dizer que vá fazer outro! Ele aprendeu muita coisa nesses dez anos e virou um dos diretores mais promissores da década, ganhando até alguns Oscars. Talvez seja exatamente por isso que o escalaram para o papel de Batman. Apesar de fazer muitos campeões de bilheteria, o estilo de direção de Zack Snyder é, no mínimo, errático. Os filmes dele costumam ser muito longos, com diálogos artificiais manjados e os finais são tão exagerados e hiperativos que é sempre bom ter em mãos uma bombinha para asma. Talvez a Warner tenha escalado Affleck para que, além do morcegão, ele seja um tipo de co-diretor infiltrado, alguém com uma habilidade maior para filmes com mais diálogo e maior carga dramática. E, como se sabe, Batman é um expert em drama...

Quando Michael Keaton, um baixinho meio calvo e que costumava fazer apenas comédias, foi escalado para o primeiro filme, os fãs faltaram jogar um bombardeiro em cima do estúdio. Morderam a língua. Quando Christian Bale, um ator britânico, na época relativamente conhecido apenas pelo thriller Psicopata Americano, foi escolhido para interpretar o Batman em 2005, os chatolinos tiveram que morder a língua de novo. E, no maior exemplo de todos, quando disseram que Heath Ledger, que na época só era conhecido como o cowboy gay de Brokeback Mountain, seria o novo Coringa, houve mais ameaças de morte dos fãs, dignas de um Black Bloc de respeito. Como sabemos, Ledger não apenas é a encarnação mais famosa do vilão, como se tornou o monstro que todo vilão de filmes lançados desde 2008 almejam superar.

Por isso, eu diria que Ben Affleck é o ator quase perfeito pro papel. Tem jeito de galã, tem o queixo de escavadeira de Bruce Wayne, já interpretou muitos playboys antes, é fá de quadrinhos e, de brinde, é o ator mais alto a interpretar o herói. Só falta agora que ele se interne numa academia até 2015 e espanar a poeira dos exemplares de The Dark Knight Returns. Tenham paciência e paguem pra ver, nerds e fanboys desocupados!

*Designer e escritor. Sites:


Um comentário:

  1. É muita sapiência para um filme de super-herói. Quanto ao embate em Super-homem e Batman, sou mais o homem de Kripton.

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