quarta-feira, 24 de julho de 2013

Ponto de vista: novos médicos

* Por Fernando Spanghero

Estamos observando nos últimos dias, uma desnecessária celeuma onde se digladiam, um governo desorientado, mal assessorado e com ímpetos demagógicos, e, uma classe cujos representantes visam apenas, na disputa, a manutenção dos seus privilégios cartoriais. É o tipo da questão, que, como está posta, todos estão errados e ninguém tem razão, contudo, com um pouco de bom senso, poderia ser equacionada, evitando que a população, grande vitima do processo, continue sendo fustigada.

Dados recentemente divulgados anunciam que o Brasil dispõe de 1,8 médicos por cada 1.000 habitantes. Nível assustador e indicativo de sub desenvolvimento. Nossos vizinhos Uruguai (2,8) e Argentina (2,7) nos superam amplamente. Com uma população estimada em 200 milhões de habitantes, precisaríamos quase dobrar o número de médicos que temos no país; posto que, o número que se divulga, considera o universo geral de médicos, apurados pelo seu registro de CRM, e não os que estão efetivamente em atividade; para chegarmos aos índices dos nossos vizinhos.

Se deduzirmos deste montante o imenso contingente dos que mantém os seus registros, porém, não exercem as suas profissões na atividade fim para a qual se formaram, a exemplo do Dr. Humberto Costa, do Dr. Alexandre Padilha, do Dr. Antonio Palocci e de outros tantos que também não exercem a profissão e militam em outras áreas, veremos minguar em alguns milhares os números apresentados, reduzindo mais ainda os magros percentuais indicados e mostrando-nos uma realidade que só os mal intencionados e os imbecis recusam-se a aceitar. E, observe-se, deste baixo percentual, a cada dia aumenta a quantidade de formandos que dedicam-se à medicina cosmética. Reduz-se sensivelmente a especialização em pediatria e neurologia, em beneficio da dermatologia, como da cirurgia geral para a cirurgia plástica.

A verdade é que o país precisa de mais médicos, e isto é urgente !
E não se pode reduzir esta questão, por mais boa vontade que se possa ter, apenas ao bate boca resultante da porraloquice da despreparada presidente(a); que pressionada pelas vozes das ruas, tenta enfiar goela abaixo, na nação, um esdrúxulo projeto de alongamento dos cursos de medicina; e dos titulares do conselho que representa o cartório corporativista. Este mesmo conselho, é o que institui a questão da ética médica, que inibe a denuncia de mal feitos médicos por outros colegas.
Num gesto populista de pura demagogia, anunciou-se que o país traria 6.000 médicos de Cuba. Parece-me um exagero ! É improvável que algum País possa hoje dispor de semelhante quantidade de profissionais, e Cuba, em que pese dispor de 22 faculdades de medicina, e, 70.000 médicos para atender uma população de pouco menos 11 milhões de indivíduos (índice 6,4 médicos por cada 1000 habitantes – um dos maiores do mundo) decerto não os dispõe em prateleiras como estoque regulador das necessidades alheias. Se os tiver, ótimo !

Em Setembro de 2005, após o efeito devastador do furacão Katrina em New Orleans (USA) o governo Cubano entendendo que idêntica situação poderia afligir a América Central e o Caribe, criou o “Contingente Henry Reeve” que atende especificamente situações de grandes desastres naturais e epidemias. São 10.000 médicos, agentes de saúde e técnicos graduados em medicina que no momento, encontram-se no Haiti. Poucos países, tem a experiência em ajuda humanitária que Cuba dispõe. Nos últimos 15 anos esteve presente na maioria das catástrofes mundiais com equipes extremamente bem treinadas e numerosas. Hoje, está presente em 31 países prestando este tipo de ajuda. Seguramente, neste campo, os médicos de Cuba tem mais experiência e treino que os brasileiros.

Contudo, a questão que aqui se insere é outra. Uma coisa e manter-se ajuda humanitária com equipes completas de médicos, enfermeiros, técnicos, paramédicos etc., outra, desmontar-se estas equipes tirando-lhes o elemento principal, os médicos, para suprir as deficiências de um país que ao longo de sua história pouco se preocupou com a saúde pública.

Por outro lado, a resposta do cartório corporativista, não foi de menor intensidade, e, enquanto brigam governo e CRM/CNM, a população padece nas filas. Filas do falido sistema de saúde do INSS/SUS, filas dos hospitais e clínicas conveniadas que superfaturam atendimentos, e, filas dos planos de saúde, que, com a complacência do governo, depenam o cidadão. Criticou-se a excelência dos médicos que viriam de Cuba, questionando-se a qualidade. Exige-se que façam exame que ateste as suas competências. Pergunta-se; quantos médicos brasileiros, a exemplo dos bacharéis em direito, fazem um teste que avalie suas condições profissionais, após a formatura ? Agora, após reclamações de toda sorte sobre os testes de revalidação que são aplicados aos profissionais estrangeiros, bem como à brasileiros formados no exterior, para que aqui possam exercer suas profissões, informa-se que, alguns formandos das escolas brasileiras serão submetidos aos testes. Com o ambíguo detalhe de que não serão reprovados se não conseguirem sucesso. Já, os que tiverem obtido os seus diplomas fora do país, não poderão exercer a profissão caso reprovados. Esta atitude eivada de xenofobia tupiniquim, apenas, mais uma vez, mostra o despreparo, a desorientação, a incompetência e, sobretudo, a estupidez de quem comanda o país.

Não é de graça que temos um serviço de saúde medíocre, onde a excelência é duvidosa e obtida apenas por quem pode pagar caro aos particulares. O rebotalho da classe e os que a exercem por sacerdócio, terminam indo para o serviço público, onde, mal remunerados , sem equipamentos da melhor geração e sem perspectivas de carreira, acomodam-se. Afogando por vezes, o sonho que constituiu a carreira.

Mas não é só isso! Como fazer então, atendimento médico, em um país cujos municípios dependem integralmente de verbas externas para manter a saúde do seu cidadão, sabendo-se que, de cada R$ 4,00 que saem do governo central , apenas R$ 3,00 chegam nas prefeituras, em razão de comissões pagas a corruptos de toda sorte, Alguns, intitulados de lobistas. E, destes R$ 3,00 , com desvios, acertos, comissões etc. apenas R$ 1,00 termina indo para a saúde. E, isto ainda é mal aplicado. Por que um salafrário que ocupa interinamente a prefeitura do município vai construir um posto de saúde e contratar um médico, se pode comprar uma ambulância para conduzir o eleitor acometido de uma otite, até um hospital da capital, por modestos 500km. ? Porque, tendo o posto de saúde, o eleitor vai procurar o médico diretamente, e, não tendo, vai procurar um vereador ou o prefeito, e, será um eterno devedor do serviço que lhes prestaram, pagando com voto a atenção.

Por lamentável, é este o Brasil que temos, e, se for para minorar o sofrimento dos que ficam horas nas filas, que venham os cubanos, ou americanos, ou espanhóis, ou portugueses, ou de qualquer País. O fundamental é que aumente-se e melhore-se o atendimento, que, decerto não ocorrerá, com paliativos irresponsáveis como aumentar os cursos de medicina em mais 2 anos, exigindo-se que estudantes de cursos ainda inconclusos e que precisam de acompanhamento, passem a atuar nos rincões mais agrestes da nação, sem experiência, equipamentos e orientação.

O que o governo tem que fazer; e este grupo que aí está já desfruta do poder há 11 anos sem qualquer intervenção de melhoria no setor; é ampliar o numero de escolas. Há quantos anos não se criam novas faculdades publicas de medicina no país ? E as particulares, quantas surgiram nos últimos 11 anos ? Que o governo determine que uma entidade de ensino, para merecer o título de universidade, tenha, obrigatoriamente, em cada estado onde estiver instalada, um curso de medicina. E dê prazo para isto acontecer! De que nos servem tantas escolas de Direito, Administração, Economia, Sociologia, Gastronomia, Designer, Psicologia, Pedagogia e tantas outras, cujos alunos formam-se para obter a titulação e não se empregam porque o mercado está abarrotado. Todos estes cursos são úteis, bem vindos e sérios, contudo, há de se ver a realidade de mercado e as necessidades da nação.

De resto, não adianta ficar nesta troca de acusações entre o governo e a guilda médica, um defendendo sua incompetência e outro seus cartórios. Em verdade precisamos mesmo é de mais médicos, e, da forma que cresceu e ainda cresce a população, ou se criam mais escolas que permita ao país formar mais profissionais na área ou apenas estaremos mais uma vez empurrando com a barriga o problema. Não adianta se fazer quadro de carreira na atividade pública, aumentar ganhos nas prefeituras dos rincões e criar todo tipo de facilidades e benefícios, para que o jovem médico possa ir para este locais exercer suas profissão, visto que a questão é outra.

Faltam médicos no país, muitos médicos. E isto não se conseguirá resolver sem a abertura de novas escolas. O resto é conversa fiada de gente que não tem competência para administrar a questão, e gente que entende ser razoável uma consulta particular de 20 minutos por R$ 500,00 em um país onde o salário mínimo é de R$ 678,00 Quem não quiser, vá para a fila !!!!!!!


* Poeta

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