domingo, 28 de julho de 2013

Pó e memória

* Por Emanuel Medeiros Vieira

“O homem é feito visivelmente para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é pensar bem”. (Blaise Pascal)

A morte sempre ganha: tem mais tempo. Pessimismo? Driblamos a Indesejada até quando for possível. Pó e memória. Mas celebramos o pássaro cantante, um instante, o arco-íris, um relâmpago de encantamento. E passamos – passamos. Os sonhos de juventude, transformaram-se em dores na coluna? Tanto ruído, tanta matéria, tanta agitação! “Credibilidade é a única moeda válida neste vasto mercado repleto de ruído”.

A vida? Definam-me urgentemente o que é a vida – por favor, um náufrago sorridente pede socorro. Até a caminho da forca, pode-se apreciar a paisagem – alguém escreveu. O pássaro cantante sorri para mim. Mesmo que esteja cercado de mortos e de fotos, rebelo-me contra o oblívio.

Existe um menino que não pode estar perto de mim. Mas também somos feitos daquilo que perdemos. E o tempo se vai – sempre. O mar, o trapiche, um fogão de lenha, um menino, boné, morango, amora, trapiche, mar, mãe pão feito em casa – repito-me, eu sei.

É como querer segurar um instante diante desta máquina descartável – nosso mundo. Queria escrever: meus valores não pertencem a ele, mas soaria retórico e discursivo. “Humanismo beato”, reclama um promotor interno. É apenas uma prosa poética, uma manhã, um mês de julho – parece tão pouco e é tudo.

*Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. 


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