quinta-feira, 25 de julho de 2013

Espionagem

* Por Jair Lopes

Durante a guerra fria muitos foram os affair entre as duas super potências, USA e URSS, envolvendo espiões e espionagem em ambos os lados da contenda, seja entre as potências diretamente envolvidas ou entre seus aliados. Ficou famoso o caso Philby, por exemplo: Harold Adrian Russell "Kim" Philby ou H.A.R. Philby, cidadão britânico nascido na Índia, foi um membro do topo da hierarquia dos serviços secretos ingleses que espionava para a União Soviética. Philby era um dos membros do grupo conhecido como Cambridge. Foi desmascarado em 1963, pediu asilo à URSS e passou a viver lá até 1988 quando morreu de doenças decorrentes do alcoolismo.

Outro evento “clássico “ de espionagem que resultou em lambança e detonou uma crise séria entre os brigões foi o caso do U-2. O incidente do avião U-2 ocorreu durante a Guerra Fria, em 1 de maio de 1960, quando um avião dessa categoria de espionagem dos EUA foi abatido sobre a União Soviética. No início, o governo dos EUA negou a meta e missão da aeronave, que era invadir e espionar a URSS, mas foi forçado a admitir publicamente o seu papel na intrusão do espaço aéreo quando o regime soviético de Nikita Khrushchev mostrou os restos do avião (surpreendentemente preservados), e anunciou ainda que seu piloto (Francis Gary Powers) tinha sobrevivido à queda.

Pois bem, naquele tempo já eram raros esses desmascaramentos de espiões de filme de oliúde porque, por mais que a ficção crie esses personagem glamorosos a lá007, na maioria dos casos não é assim que a espionagem entre nações funciona.

Li a vida de Markus Wolf, espião a serviço da Alemanha Oriental antes da queda do muro de Berlim, onde ele desmonta esse falso charme de espiões que trocam mensagens em código, transmitem em rádios clandestinos e tem aventuras mirabolantes com loiras fatais. Segundo Wolf e alguns outros ex espiões, um bom espião lê jornais. A espionagem da Alemanha Oriental, por exemplo, não necessitava gastar fortunas mantendo agentes secretos em capitais importantes do Ocidente para se inteirar de fatos militares, políticos, estratégicos, econômicos ou quaisquer outros que fossem interessantes ao poder dos alemães orientas e, por tabela, dos russos. Bastava assinarem todos os jornais importantes em língua inglesa e alemã e manter equipes especializadas lendo as matérias e interpretando os fatos. E parece que assim é realmente, pois consta que a espionagem dos alemães do lado de lá foi extremamente eficiente.

Claro que não é privilégio de alemães se informarem através de publicações dos “inimigos”, os americanos também sempre usaram esse método como o mais barato e de melhor resultado que se conhece.

É só pensarmos por dez segundos e chegaremos a conclusão que absolutamente tudo está à disposição na imprensa. Hoje, muito mais que antes, com advento da internet, das redes sociais e da comunicação instantânea, é um absurdo a quantidade de informações que estão disponíveis para quem quiser xeretar. Qualquer “espião“ de qualquer nação poderá acessar milhões de informações através de se teclado, ninguém precisa viajar aos EUA, por exemplo, para saber sobre suas aeronaves de guerra, seus navios, seus mísseis, suas bombas e outras armas. Tudo está ao alcance da ponta dos dedos no teclado. Quem duvidar clique no Google e procure o que quiser, até como confeccionar uma bomba “A “, e encontrará.

Não quero defender nem atacar Snowden que revelou um programa norte americano para “espionar” cidadãos comuns de dezenas de países, inclusive do Brasil. O que quero dizer é que essas informações, assim chamadas sigilosas, estão disponíveis nas redes sociais e nos mais variados saites da internet para quem estiver interessado. O inusitado nesse affair Snowden é o desenvolvimento de um programa “secreto” de xeretagem feito por uma nação cada vez mais paranoica que, desde 11 de setembro de 2001, vê agentes do mal embaixo da cama todos os dias. Como cidadão comum fico perplexo com importância que se dá a existência desse tal programa. Tenho um amigo que conhece bastante de informática e que por mero ludismo acessa dados sigilosos de quaisquer cidadãos deste país. Na minha frente ele mostrou como consegue saber, por exemplo, o CPF e outros dados pessoais de um cidadão qualquer. Ora, esse meu amigo é apenas um curioso não mal intencionado e não pratica qualquer ato mais reprovável além desses acessos. Imagine um nação como os EUA o que pode fazer com seus super computadores?

Não vou estranhar nem um pouco se no Brasil, lá em Brasília, existir uma agência governamental cheia de computadores de alta performance “espionando” nossos vizinhos fronteiriços e até os EUA, quem sabe. Sei que, mesmo em tempos de paz, militares se espionam através de seus adidos às embaixadas e missões em outros países.

E, como todos praticam essa atividade, ninguém reclama. Contudo, no caso Snowden, para manter um certo respeito, o nação “espionada” põe a boca no trombone através da diplomacia e o nação “espionante” dá umas explicações meio furadas e tudo permanece como dantes no país de Abrantes.


* Escritor, autor dos livros "O Tuaregue" e "A fonte e as galinhas".

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