sábado, 20 de julho de 2013

E a Saúde, como vai?

* Por Paulo Reims

No início de maio do corrente ano, já me reportei a este tema. Escrevi a respeito da possível vinda de médicos cubanos para atuarem nas regiões mais remotas e carentes deste imenso país. Dizia, então, que a minha preocupação não era a respeito do preparo profissional dos médicos cubanos. Aliás, em 2012, 884 pessoas de várias partes do mundo se inscreveram para o Revalida, e apenas 77 (menos de 9%) conseguiram a aprovação no exame. O Brasil respondeu pela grande maioria dos inscritos, foram 560, mas apenas 7% dos candidatos foram aprovados, deixando o Brasil na sexta colocação no ranking de índice de aprovação. Os países que obtiveram o maior êxito neste quesito foram Venezuela (27%) e Cuba (25%), apesar de o número absoluto de inscritos ter sido pequeno. Nenhum candidato com nacionalidade de países da Ásia, África e América do Norte conseguiu passar na prova do MEC (http://cascavilha.com.br/site/brasil/cubanos-dao-show-no-revalida-e-agora?fb_source=pubv1).

O próximo exame para o Revalida será aplicado também para uma pequena amostra de alunos formados no Brasil. De acordo com o Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), uma edição do exame será aplicada para uma amostra de estudantes do sexto, portanto, do último ano de medicina no Brasil, e funcionará como “pré-teste”. Como o índice de reprovação do Revalida é muito alto, a intenção do governo é aplicar as provas para os alunos brasileiros que estudam no país para testar habilidades e competências. Porém, desconheço os critérios que serão usados para a escolha dos alunos que participarão do exame. Mas não sou a favor de inscrições espontâneas, pode ser uma ferramenta perigosa...

Sou da opinião de que todos os estudantes deveriam fazer o exame para poderem exercer a profissão, assim como a OAB exige de todos os bachareis em Direito o exame para atuarem como advogados. Aliás, todos os cursos deveriam aplicar um exame de todas as disciplinas estudadas, para todos os alunos, no final dos respectivos cursos; todos os candidatos a cursos que lidam diretamente com a vida deveriam passar por uma avaliação psicológica e teste vocacional. O objetivo seria humanizar mais os profissionais, colaborando para a humanização da sociedade.

O Revalida é um exame nacional, criado pelo Ministério da Educação, que representa a porta de entrada tanto para estrangeiros quanto para brasileiros que se formaram no exterior que desejam ter reconhecido o direito de exercerem a medicina no Brasil.

Porém, no meu parecer, o foco principal não está no Revalida, como comentei no artigo anterior. A preocupação está na falta de infraestrutura, ou seja, faltam hospitais e laboratórios bem equipados para atender o povo nos rincões desta enorme nação.

Com certeza muitas pessoas dirão: não precisamos ir muito longe para encontrar situações calamitosas nos centros de saúde. Também é verdade, mesmo nos grandes centros urbanos vamos encontrar instalações precárias, e dificuldades de todo tipo, quando o atendimento é pelo SUS. Realmente a situação da saúde neste país é vergonhosa, em se tratando dos pobres que dependem do sistema. Salvo exceções.

Evidente que o problema já vem de muito longe. Uma amiga do Rio de Janeiro, faz pouco tempo, me relatou a realidade sofrida pelo seu irmão médico. Ele, recém- formado, fez concurso público e passou. Foi trabalhar como plantonista em um hospital público da capital do Rio, há mais de 30 anos. Defrontou-se com uma realidade muito dura, desumana, pela falta de infraestrutura, até que chegou ao seu limite: entraram dois pacientes em estado grave, ambos precisando de cirurgia de emergência, mas só havia material capaz de atender a um deles. Como escolher a quem operar? Ele entrou em grave crise de consciência e optou por pedir demissão, por não se sentir capaz de fazer este tipo de escolha. Continuou a exercer sua profissão no seu consultório, atendendo, também, pessoas carentes, e atuando em várias frentes sociais.

A situação não mudou quase nada. Semana passada, uma pessoa muito próxima a mim, em uma grande cidade do Estado de Santa Catarina, foi atropelada de forma violenta por um motoqueiro que pilotava velozmente. Ela ficou muito machucada e com muitas escoriações. Não teve fratura, mas bateu fortemente com a cabeça no asfalto, chegando a perder momentaneamente a memória. Porém, teve duas fraturas no tornozelo. Ficou dias internada num hospital público e não foi atendida por nenhum médico. Com muitas dores não recebia nem medicação; a situação obrigou sua filha a deixá-la em uma maca para sair e comprar medicamentos fora, a fim de que pudesse ter suas dores amainadas e assim dormisse um pouco. Vendo que não adiantava lutar, teve que levar sua mãe para um hospital particular para poder fazer a necessária cirurgia, buscando recursos com empréstimos, pois todos na família dependem de salário mínimo para viver.

Evidente que a classe médica deixa muito a desejar em se tratando de atender ao pobre. Conversei com uma amiga, que atualmente vive na Alemanha. Ela conhece a classe médica de Santa Catarina como a palma da sua mão, e me garantiu que tira o chapéu para 10% dos médicos deste Estado. É tão bom encontrar um médico bom, humano! Com esses, metade dos problemas já fica solucionada! Também conheço e reconheço estes profissionais, verdadeiramente vocacionados a salvar vidas...

E a saúde, como vai? Vai muito bem para quem tem dinheiro e convênios. E para os pobres, que são a quase totalidade neste país, um dos mais desiguais do mundo, vai muito mal. E onde, ironicamente, os parlamentares são os mais bem pagos do mundo, depois dos EUA, e ainda legislam em causa própria, de tal forma que para eles não existem limites de gastos no que se refere a tratamento de saúde. Pode isso? Os que deveriam servir o povo, dele se servem, sorvendo até o último centavo que já não possui. Se paga aqui uma das mais altas cargas tributárias do mundo, para os pobres morrerem nas filas de espera. É a injustiça institucionalizada que clama em todo o universo.

E as manifestações nas ruas silenciaram a respeito de todos os que ocupam cargos nos primeiros escalões dos três poderes, que recebem orçamentos de milhões de milhões para satisfazer todas as suas necessidades, muitas extremamente desnecessárias, diante de um dos povos mais miseráveis do planeta. Enquanto um ministro do STF de dá o direito de tomar o avião para assistir ao futebol no Rio de Janeiro, ou de fazer tratamento de saúde na Alemanha, enquanto alguns parlamentares e outros de altos escalões tomam o avião da FAB para assistir futebol e participar de festa de casamento, os pobres têm que depender de transporte público caro, e de qualidade péssima, sofrendo todas as agruras da vida, pelo fato de que os detentores do poder determinaram “democraticamente” que o povão tem que dar duro, derramar o sangue na senzala para que a vida dos palacianos se mantenha com todas as mordomias existentes e por existir. Até quando?


* Jornalista

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