sábado, 29 de junho de 2013

E as manifestações nas ruas? (2)

* Por Paulo Reims

No início da semana passada, dia 17 de junho, escrevi sobre o assunto, e o partilhei no dia seguinte. Até este momento estava alegre com as manifestações nas ruas, apesar da preocupação com a violência, até então por iniciativa dos policiais, a mando do governo do Estado de São Paulo. Aliás, este foi o motivo principal a aumentar o número de manifestantes.

Os dias foram se sucedendo, e minha alegria foi tomada por um misto de tristeza. Por quê?

Procurei acompanhar as manifestações bem de perto. Estava contente porque o povo estava despertando, e triste porque percebi que a maioria, sem se dar muita conta, após longos anos, acordou com cataratas, que deixam a visão muito embaçada. Como assim? Vamos recordar. No início, a reivindicação era a revogação do aumento das tarifas do transporte coletivo. A iniciativa foi do Movimento Passe Livre (MPL). A seguir, as manifestações foram tomando proporções maiores em número de pessoas, cidades, dentro e fora do país, e com uma pauta de reivindicações que aumentava dia após dia.

Dizia para mim mesmo: o MPL não está conseguindo coordenar as manifestações, e concluí que havia infiltrações de todo tipo, pessoas violentas, bandidos, saqueadores, depredadores. Mas, como ventilei no artigo da semana passada, havia infiltração truculenta e mascarada da direita burguesa, detentora do poder econômico, político que, por sua vez, é senhora, também, do Partido da Imprensa Golpista (PIG). Desta forma começou a conduzir o processo – dando a pauta das manifestações e provavelmente infiltrando alguns depredadores – o que poderia levar a um golpe, como aconteceu com as manifestações nas ruas em 1964. A direita quer o progresso, mas somente para os seus pares. Foi assim, inculcando terror na massa, que conseguiu fazer morrer na casca as reformas sociais incipientes do governo de João Goulart, e aumentar seus patrimônios.

Como faz falta a filosofia na escola, em todos os níveis e cursos! Creio que é a principal causa das cataratas nos olhos da massa, pois assim é manobrada com facilidade. Mas, então, você quer dizer que as manifestações não foram oportunas? Não é isso. Elas exerceram um papel importante ao fazer as “autoridades” despertarem, em todos os sentidos, também o da iminência de um golpe. Sacudiram as folhas secas para caírem e se transformarem em adubo, energia para uma retomada mais vigorosa do processo de transformação social, que tenha como escopo o bem comum, e não o acúmulo para aqueles que já têm demais.

Quando digo que o Brasil acordou com cataratas nos olhos, o faço pela parcialidade das manifestações. Como assim? Por acaso alguém viu um cartaz, faixa ou palavra de ordem contra o Judiciário, eivado de irregularidades, algumas clamorosas, como por exemplo: a venda de sentenças, viagens internacionais da esposas dos ministros do STF com dinheiro público, parcialidade nos julgamentos dos mensalões - até agora o processo contra o mensalão do PSDB está engavetado, sendo que é anterior ao do PT - , toda a privataria tucana, especialmente a da Vale do Rio Doce, e por aí...? Alguém viu uma palavra contra o Congresso Nacional, o mais bem pago do mundo, depois dos USA, e que continua agregando mordomias, com uma população tão pobre, uma das nações com a maior desigualdade social do mundo, apesar dos avanços dos últimos dez anos, não podemos negar? Nem os parlamentares da oposição se manifestam contra estas regalias e privilégios; com seus “bolsos” abarrotados eles silenciam, mesmo a custa do suor e do sangue dos verdadeiros trabalhadores que fazem o progresso deste país. Fora a manifestação contra as PECs 33 e 37, nada mais. Aliás a PEC 37, quase por unanimidade, acabou de ser derrubada.

Ontem, dia 24 de junho, um senador do DEM foi contra a Presidente Dilma que, entre outras propostas concretas, anunciou a convocação de um plebiscito para uma constituinte exclusiva para fazer a reforma política, desde que o Congresso Nacional a aprove. Ele se pavoneou em dono da verdade, dizendo que isto é prerrogativa do Congresso Nacional. Igualmente, hoje, dia 25 de junho, Aécio Neves não perdeu tempo em também aparecer dizendo que as propostas da Presidente Dilma são uma afronta às reivindicações do povo nas ruas. Feliz mesmo foi o Presidente da OAB que falou da necessidade de se ouvir o povo, mas não criar uma constituinte, pois iria atrasar ainda mais o processo da reforma política. Admirável assessoria esta. E é isto que vai prevalecer.

Mas as saídas da oposição refletem que, na verdade, a voz do povo é um detalhe. Por que a Presidenta não pode propor uma constituinte através da escuta do povo? Qualquer cidadão pode fazer propostas que sejam do interesse da coletividade, e os parlamentares, se representam o povo, devem acolhê-las. A impressão que os membros da oposição passam, com suas reações, é a de que o povo é somente um detalhe que interessa na hora de lhes dar o voto.

Quero enaltecer o gesto da Presidenta Dilma por tal proposta, pois creio que a partir da reforma política, bem conduzida, muitas outras reformas de base poderão se suceder, se a direita fascista e a imprensa burguesa, assessorados pela CIA e outros mais, não derem o golpe. O MPL já percebeu esta intenção, tanto que avisou publicamente que saía das manifestações, uma vez que conseguiu o objetivo da sua luta: revogação do aumento das passagens do transporte coletivo.

E aqui uma vez mais se percebe que o Brasil acordou com cataratas nos olhos: onde estava a faixa solicitando do Congresso Nacional a regulamentação do artigo 14 da Constituição, para que tenhamos uma Democracia Participativa, ou seja, para que o povo seja sempre consultado a respeito dos assuntos importantes para a vida desta nação? Não encontrei nenhum cartaz contra a imprensa burguesa, e a favor da democratização e socialização da imprensa.

Realmente, as manifestações perderam sua originalidade na medida em que estão sendo parciais, permitindo, mesmo de forma incauta, a manipulação do terror da direita que quer voltar a tomar o poder para transformar nossos sonhos e ideais em pesadelos reais.

Também não encontrei uma faixa que reivindicasse a reforma agrária, para diminuir a violência no campo e também a miséria...

Voltemos nosso olhar para aquilo que a imprensa vive chamando de primavera árabe. Com a desculpa de que queria ajudar estes povos a ter liberdade, a transformaram em rigoroso inverno. Um exemplo, a título de recordação: a Líbia tinha todos os seus jovens nas universidades. Hoje a Líbia virou ruína e miséria. É o que o Tio Sam e seus aliados sabem fazer. Os poderios econômico e bélico deles crescem e a miséria e o sofrimento dos países invadidos e subjugados também crescem assustadoramente. Quem será a próxima vítima?

Não estou afirmando que neste governo não existem problemas. Eles estão aí, são sérios e precisam ser enfrentados com vigor. A corrupção, infelizmente, é grande; desperdício de verbas também, a começar pela construção de algumas arenas que, após o mundial, terão pouco proveito; o orçamento para a transposição do Rio São Francisco já duplicou, e creio que não chegará ao fim, e se chegar será para satisfazer os donos do agronegócio; tem muita coisa errada sim. Porém, o atual senador Roberto Requião afirmou em uma entrevista à revista “Caros Amigos”, em 2005 – auge das denúncias do mensalão – “a gente não precisa nem de um roubômetro para avaliar; o FHC, com a privataria tucana, roubou 10.000 vezes mais do que qualquer possibilidade de desvio do governo Lula”. E que providências foram tomadas?

Concluo dizendo que precisamos cortar na própria carne, ou seja, precisamos fazer cirurgia para retirada de cataratas, para vermos melhor e agirmos de forma coerente e concreta.

Neste caso, proponho ao Congresso Nacional que tenha a coragem da Assembleia Nacional do Equador, que no dia 14 de junho pp, aprovou a sua Lei de Imprensa. Foram 108 votos a favor, 26 votos contra, certamente estes são os donos da imprensa de lá, e uma abstenção, ou seja, não sabe porque está lá. Realmente foi uma vitória popular. E aí, senhores senadores e deputados? Estão com medo de quem? Vocês representam o povo, ou os grupos econômicos que também são donos do PIG?

Precisamos urgentemente de uma Lei de Imprensa que venha favorecer a imprensa alternativa, para combater as mentiras com caras de verdades da imprensa burguesa e golpista.

Vamos lá, já, queremos enxergar melhor para sairmos às ruas com propostas concretas e sem parcialidade, pelo bem comum. Juntemo-nos aos movimentos sociais organizados, para não sermos manipulados pela direita fascista.

Este é o medo dos “poderosos” que tentam nos manter com cataratas, miopias, hipermetropia, astigmatismo...

* Jornalista


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